Os atos em alusão ao Dia do Trabalho marcados para quarta-feira (1º) demonstram uma nova fase do movimento sindical no país, com a inédita união das 10 maiores centrais brasileiras em um mesmo palanque. Mais do que pautas em comum, tendo a mobilização contra a reforma da Previdência como carro-chefe, a aproximação escancara o impacto da queda de receitas das instituições após a reforma trabalhista. Enquanto no início dos anos 2000 as entidades reuniam mais de 1,5 milhão de pessoas no dia 1º de maio, a projeção de público do evento unificado em 2019 não chega à sexta parte desse número.
O cenário, favorável na primeira década do milênio, com a chegada da esquerda ao poder, se deteriorou a partir de 2013 e o avanço da Operação Lava-Jato. Grandes empresas que patrocinavam os encontros viraram alvo das investigações e deixaram de repassar recursos. Dois anos mais tarde, com a chegada de Michel Temer ao poder, estatais também fecharam as torneiras.
Além disso, a reforma trabalhista acabou com a contribuição sindical obrigatória, que ocorria todos os anos, em março, reduzindo em 90% a arrecadação das entidades com o tributo. Neste ano, outro revés. O governo editou a Medida Provisória (MP) 873, que proíbe as empresas de descontarem a mensalidade dos sócios e a contribuição assistencial na folha de pagamento. A quitação só pode ocorrer por boleto bancário e com autorização expressa do funcionário.
Ato criticado pelas concorrentes, a Força Sindical transformou em tradição os eventos com sorteios de brindes e presença de artistas. Em 2002, para um público superior a 1,5 milhão de pessoas na zona norte paulistana, distribuiu cinco apartamentos, 11 carros e diversos eletrodomésticos entre seus sócios. No palco, atrações como Alexandre Pires, Wanessa Camargo e Chiclete com Banana.
— Não é só a redução de receita. O financiamento também diminuiu. Os prêmios que a Força sorteava vinham da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil. Agora, tudo está sendo feito pelas entidades — relata o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna.
Para ele, as centrais querem avançar no debate sobre os direitos do trabalhador, em especial, após redução da bancada sindical no Congresso na última eleição.
Integrante da organização dos eventos conjuntos, a Central Única dos Trabalhadores também foi impactada pela asfixia financeira e a falta de patrocínios. Ligada ao PT, sofreu com as denúncias dirigidas ao partido após a Lava-Jato.
Apesar disso, o presidente da entidade, Vagner Freitas, afirma que a união não se dá pelo “estrangulamento financeiro”, mas pela necessidade de demonstrar força política na defesa dos trabalhadores. Para ele, a realização de encontros separados enfraqueceria a pauta das centrais.
— A defesa só pode ser feita em nível de unidade. Não adianta ter vários “primeiros de maio”.
Integra a estratégia de intensificar a mobilização contra as alterações em aposentadorias e pensões a convocação de greve geral para o mês de junho. Antes disso, em 15 de maio, está previsto o “Dia Nacional de Luta”, com a previsão de atos em todo o país.
A pauta dos eventos também estará centrada no fim da política de valorização do salário mínimo, no desemprego que atinge cerca de 13 milhões de brasileiros e na reivindicação de diálogo do governo com líderes sindicais.
Berço do movimento sindical, São Paulo deverá sediar o maior evento de 1º de maio
- Pela primeira vez, 10 centrais sindicais farão um ato unificado, no Vale do Anhangabaú, região central da capital paulista
- As entidades irão gastar R$ 700 mil e esperam reunir cerca de 200 mil trabalhadores
- Nenhuma central irá realizar sorteios de brindes como em edições anteriores, quando carros e apartamentos eram oferecidos
- A parceria com uma rádio paulistana levará artistas ao palco, entre eles, Roberta Miranda e Leci Brandão