Diante da queda de 86% na arrecadação das entidades sindicais desde a reforma trabalhista, uma das maiores organizações de trabalhadores de Porto Alegre, o Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre (Sindec), está recorrendo a demissões para reduzir custos e colocando boa parte de seu patrimônio à venda para sobreviver. A entidade se desfez de um imóvel onde ficava a sede da Força Sindical, por R$ 700 mil. A frota de 15 carros próprios foi negociada. Para os deslocamentos necessários, foram locados quatro veículos. O quadro de funcionários foi enxugado. Eram 190. Agora, são 140 pessoas. Alguns dos desligados tinham décadas de casa, e significam rescisões caras que também precisam de recursos vultosos.
— Estamos buscando alternativas para sobreviver em meio a esse rolo da reforma trabalhista, que, de um lado, fortaleceu a negociação coletiva, mas, de outro, enfraqueceu os sindicatos — diz o presidente do Sindec, Nilton Neco.
A arrecadação com o imposto sindical caiu de forma drástica. De cerca de R$ 3 milhões anuais para R$ 600 mil. Além da venda de patrimônio, o que vem mantendo a entidade é a contribuição assistencial mensal, explica o dirigente. O orçamento, de R$ 18 milhões em 2017, agora é de R$ 12 milhões. Serviços como creche e departamento médico e odontológico foram fechados e terceirizados.
O Sindec tem outros dois bens imóveis para vender. Um deles, no bairro Ipanema, na zona sul da Capital, é o da sede recreativa. Um quarteirão inteiro, com ginásio de esportes, salão de festas e quiosques com churrasqueiras. O preço: R$ 3 milhões.
A região é nobre, junto ao Guaíba, mas restrições a edificações altas atrapalham o interesse de empreendedores. O outro patrimônio à espera de interessados é a colônia de férias na praia de Rondinha, em Arroio do Sal, no Litoral Norte. São seis hectares à beira mar avaliados em R$ 1 milhão.
A alta rotatividade no setor do comércio atrapalha o interesse pela sindicalização e a consequente cobrança do imposto sindical. Em um esforço em busca de autorizações, em seis meses o sindicato conseguiu coletar cerca de 25 mil assinaturas.
— Quando mandamos os nomes para as empresas, grande parte não estava mais trabalhando lá — explica Neco.
Mesmo com uma base de cerca de 100 mil trabalhadores, o Sindec chegou a ter só 8 mil associados. Com a crise, muitos serviços foram encerrados ou, o que era gratuito, passou a ser cobrado. Sem benefícios, o quadro minguou para 3 mil.
Outro em apuros financeiros, o Sindicato dos Metalúrgicos (Sindimetal) de Novo Hamburgo é outra entidade que vai alienar patrimônio para cumprir os compromissos mais urgentes. Colocou à venda um imóvel de 6,5 mil metros quadrados, no bairro Jardim Mauá, que conta com ginásio de esportes e salão de festas.
— Estamos pedindo em torno de R$ 4 milhões. Já apareceram algumas propostas — conta o presidente do sindicato, Lauro Pinto do Amaral.
O cofre do sindicato está raspado. A entidade arrecadava cerca de R$ 400 mil por ano. Metade vinha do imposto sindical. Em 2018, não entrou um centavo do recurso. O mesmo acontece com a contribuição assistencial. A data-base da categoria é maio, mas até agora não foi fechada a negociação relacionada ao dissídio com a patronal. A saída, até agora, foi cortar custos e serviços. Os metalúrgicos contavam com dois médicos e dois dentistas, mas agora só há um de cada área. Um dos dois automóveis foi vendido. Os poucos recursos que a entidade vem conseguindo são do aluguel do ginásio e da contribuição assistencial da categoria de trabalhadores no reparo de veículos, que também integram a base coberta pelo sindicato.