O ex-deputado do PSOL Jean Wyllys, que renunciou ao mandato e saiu do país para morar no Exterior devido a ameaças de morte, concedeu entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo. No encontro, exibido na madrugada desta sexta-feira (12), ele revelou ameaças e constrangimentos vivenciados, comentou o episódio em que cuspiu no presidente Jair Bolsonaro, a vitória do político na eleição presidencial, e também fez planos para o futuro.
De acordo com o político, uma das muitas razões para optar por sair do país foi a perspectiva, devido à conjuntura atual, da adoção de um mandato reativo, na defensiva, ao contrário dos dois anteriores, considerados propositivos pelo ex-deputado. Além disso, Wyllys citou o luto, o medo e as dúvidas que eclodiram após o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro e sua amiga pessoal Marielle Franco.
— Depois disso (assassinato de Marielle), alguma coisa se quebrou dentro de mim e eu não pude enxergar mais a política da mesma maneira — disse o ex-deputado. — Marielle não tinha inimigos, ao contrário de mim. Se fizeram com ela, por que não me matariam? — questionou Wyllys.
Desafeto declarado do presidente, o ex-deputado afirmou não se arrepender do episódio em que cuspiu no rosto do então deputado federal Jair Bolsonaro, em 2016, durante votação no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff no plenário da Câmara.
— Eu não me arrependo de nada, eu tenho orgulho — disse o baiano.
No momento da ação, Wyllys disse que estava em uma espécie de "transe":
— Era um acúmulo de tudo... de anos de assédio moral, de violência contra mim, de xingamentos sem que as pessoas reagissem, de uma naturalização daquela violência que ele praticava, de ele tratar minha homossexualidade como um meio de me difamar.
Vitória de Bolsonaro
Questionado sobre as dúvidas e descrenças de parte da sociedade, durante o período eleitoral, sobre a possibilidade de vitória de Bolsonaro na eleição, Wyllys disse que estava ciente da iminente vitória do adversário.
— Eu sabia porque eu fui o laboratório para tudo o que Jair Bolsonaro fez depois. Eu fui a cobaia do laboratório e a escada que ele utilizou. Até eu chegar no parlamento e ele entender que a homofobia era um meio de interpelar a sociedade e disputar a hegemonia, ele era um político paroquial, conhecido no Rio de Janeiro, desqualificado, do baixo clero — declarou o escritor.
Sobre o futuro do atual governo, o ex-deputado não soube dizer se Bolsonaro termina ou não termina o mandato e declarou que não sabe se há qualquer base para um eventual pedido de impeachment. Ele salientou, no entanto, a necessidade de legitimidade em tal ato, algo inexistente na deposição da ex-presidente Dilma Rousseff do poder, conforme sua avaliação.
— O que a gente não pode negar é que ele foi eleito. As fake news podem ter tido papel importante, as fake news foram impulsionadas pela força do poder econômico, ainda há que se investigar como isso foi feito, quem fez, de onde veio esses recursos, mas ele foi eleito — completou o político.
Próximos passos
Residindo em Berlim, na Alemanha, o ex-deputado declarou que pretende se dedicar à realização de um doutorado, lançará um livro sobre política e ministrará palestras. No período fora do país, confidenciou o desejo de viver momentos de solidão e anonimato, novas amizades e espaços para conviver, ações até então inviáveis no Brasil.