A embaixadora do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), Maria Nazareth Farani Azevedo, e o ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) protagonizaram um bate-boca durante um debate promovido pela ONU em Genebra, na Suíça. Maria Nazareth interrompeu o evento, que tinha Wyllys entre os convidados, para ler um discurso em que defende o governo Jair Bolsonaro.
O ativista, que decidiu não assumir o novo mandato na Câmara dos Deputados para qual foi eleito e saiu do Brasil devido a ameaças de morte, tinha sido convidado a debater sobre o populismo no mundo. Em sua fala, ele alertou para a suposta relação entre o crime organizado e o governo brasileiro, fazendo referências até mesmo ao assassinato de Marielle Franco. Maria Azevedo não estava na sala no momento do discurso, mas entrou no local após o início do evento.
Com o tempo do debate se esgotando, Azevedo avisou que gostaria de se pronunciar. A moderadora do debate abriu espaço para a embaixadora. Ao tomar a palavra, a diplomata passou ao ataque contra Jean Willys:
— O presidente Bolsonaro não fugiu do Brasil após a tentativa real e muito televisionada de tirar sua vida — disse a embaixadora.
O discurso foi publicado na conta oficial da delegação brasileira em Genebra no Twitter, e republicado pelo Itamaraty na mesma rede social:
— O governo Bolsonaro não é uma organização criminosa. Nem o presidente Bolsonaro é fascista ou autoritário. Ele não cuspiu na cara da democracia — afirmou.
Sem mencionar Wyllys, o texto faz referência à votação do impeachment de Dilma Rousseff, quando o então deputado do PSOL cuspiu em direção a Bolsonaro no plenário da Câmara dos Deputados, e à saída dele do País em janeiro deste ano.
O discurso da embaixadora também diz que o governo Bolsonaro está comprometido com a proteção de grupos vulneráveis, inclusive a comunidade LGBT.
— Eles (LGBT) estão sendo incluídos e não estão sendo discriminados por qualquer instituição oficial de forma alguma — diz o texto.
Em seguida, os mediadores do evento deram a palavra ao ex-deputado para que ele respondesse ao discurso, e convidaram Maria Nazareth a ficar na reunião. Ela disse que só ficaria se tivesse direito à tréplica, o que o mediador se recusou a fazer. O jornalista Jamil Chade filmou parte da discussão e publicou uma nota sobre o caso em seu blog:
— Se a senhora gosta de debate, a senhora deveria ouvir a minha resposta. O fato de a senhora ter saído, inclusive, do seu lugar e ter vindo com um discurso pronto para esta sala é um sintoma, mesmo, de que a minha presença aqui amedronta a senhora e o seu governo— disse o ex-deputado, enquanto ela se levantava para ir embora.
— Não amedronta. Envergonha — respondeu a embaixadora, antes de sair da sala.
Depois do texto, a delegação brasileira em Genebra afirmou que teve o direito de réplica "cerceado pela defesa" e, quando a embaixadora se retirou da sala, marcou "o repúdio do Brasil aos ataques que ali estavam sendo desferidos". O post foi igualmente retuitado pelo perfil oficial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
O ex-deputado, depois, compartilhou um post da ONG Conectas Direitos Humanos que afirma: "Desqualificar um defensor de direitos humanos em pronunciamentos oficiais é uma atitude de governos que não toleram críticas e se afastam do espírito democrático.
Ataques
Esta não é a primeira vez que Wyllys se torna alvo de manifestações públicas na Europa. Em fevereiro, no primeiro evento em que participou desde sua saída do Brasil, manifestantes do Partido Nacional Renovador (PNR), de Portugal, interromperam uma conferência na Universidade de Coimbra. Dois homens tentaram acertá-lo com ovos.
Wyllys participava, na ocasião, de um debate sobre fake news e discurso de ódio contra minorias.