O anúncio do economista Abraham Weintraub para titular do Ministério da Educação (MEC) ocorre após três meses de paralisia da pasta, causada por embates ideológicos e disputas por espaço. A exemplo de Ricardo Vélez Rodríguez, seu antecessor, o novo ministro não tem experiência em políticas públicas na área. Recebido com reservas por entidades educacionais, seu nome não foi bem digerido pela ala militar do governo. Ao comunicar a substituição, o presidente Jair Bolsonaro ressaltou a experiência em gestão do indicado.
Nos bastidores, o temor é de que o desgaste causado pela segunda troca ministerial antes dos cem dias de gestão não solucione o problema. Para generais com trânsito no Palácio do Planalto, o momento era visto como possibilidade para reduzir a influência ideológica na pasta. O nome do ex-presidente do Conselho Nacional de Educação Eduardo Deschamps era o preferido.
Com o anúncio, a leitura é de que o efeito poderá ser contrário, já que Weintraub é alinhado às ideias defendidas pelo escritor Olavo de Carvalho — que avalizou a escolha — e já defendeu a luta contra o “marxismo cultural”, que seria o avanço de ideias de esquerda na sociedade.
O grupo formado por olavistas que atuam na pasta comemorou a indicação e defendeu o retorno de seguidores do escritor a funções na cúpula do MEC. Uma delas é a secretaria-executiva, ocupada pelo tenente-brigadeiro Ricardo Vieira Machado, próximo ao ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz —, escalado para pacificar o ambiente após 16 exonerações no ministério.
Weintraub nega que irá aparelhar ideologicamente o MEC, mas o temor na caserna é de que os militares fiquem sem espaço na estrutura. O novo ministro recebeu carta branca do Planalto para montar sua equipe e deverá focar sua atuação nos ensinos Fundamental e Médio.
O novo titular do MEC ocupava a secretaria-executiva da Casa Civil, chefiada pelo amigo Onyx Lorenzoni, responsável por sua aproximação com Bolsonaro. Weintraub atuou na formulação do plano de governo do então candidato e contribuiu com diretrizes de diversas áreas, entre elas, economia e educação.
O gaúcho conheceu Weintraub – e seu irmão, o advogado Arthur Weintraub – após um seminário internacional sobre Previdência, em março de 2017, quando ainda considerava concorrer ao Palácio Piratini e via na dupla potencial para formatar um plano econômico ao governo do Estado.
O crescimento da candidatura de Bolsonaro fez Onyx alterar os planos e se transformar em uma espécie de braço direito do presidente. Questionado sobre sua influência na indicação, evita assumir qualquer responsabilidade.
— A escolha é 100% do presidente. É por conta do conhecimento que ele (Weintraub) tem na área de educação, de gestão de equipes e de pessoas. Ele vai montar um timaço lá, e dar um novo direcionamento para o MEC – projeta Onyx.
A partir do enfraquecimento de Vélez à frente do MEC, diversas indicações chegaram à mesa do presidente. No Congresso, os nomes mais fortes eram o do senador Izalci Lucas (PSDB-DF) e o do deputado Mendonça Filho (DEM-PE), que ocupou o cargo no governo de Michel Temer.
No entanto, para ambos o problema foi partidário. Izalci não foi liberado pela cúpula tucana para integrar o governo e Mendonça encontrou resistências, já que o DEM tem três ministérios, mesmo sem ter entrado oficialmente para a base aliada.
O MEC segue com, pelo menos, dois importantes cargos vagos: a Secretaria de Educação Básica e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem.