Candidata ao Senado na eleição de 2018 e ex-presidente do PSL, Carmen Flores declarou ter gasto R$ 35,5 mil do fundo partidário para adquirir móveis na loja C. I. dos Santos Móveis Eireli, de propriedade de um sobrinho chamado Carlos Igor Inácio dos Santos. Ele nega ter feito qualquer venda ao partido na eleição e diz que seu CNPJ foi utilizado indevidamente.
No período do pleito, o estabelecimento tinha como endereço a Avenida Ipiranga, número 6.863, mesmo local onde fica a principal loja de móveis da rede Carmen Flores. Passada a disputa, o comércio de Santos mudou o seu endereço para Tramandaí, onde ele comanda atualmente uma franquia Carmen Flores na cidade litorânea.
A negociação foi feita através da conta de campanha do diretório estadual do PSL, sobre a qual Carmen tinha autoridade por ser a presidente da sigla à época.
A seção gaúcha do partido teve receitas de R$ 116 mil para a eleição, sendo R$ 100 mil do fundo partidário. Os outros R$ 16 mil se referem a recursos que foram, inicialmente, repassados pela legenda para candidatas mulheres a cargos parlamentares. Depois de receber a verba, elas devolviam o recurso ao partido parcial ou integralmente, o que acabou contabilizado como receita.
A alegada compra dos móveis na loja do sobrinho de Carmen foi o principal gasto do PSL gaúcho na campanha, representando 31% das despesas do diretório regional.
Na conta de campanha da sua candidatura, que é separada da do partido, Carmen, que se declarava "a senadora de (Jair) Bolsonaro", também fez pagamentos a parentes. Com recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (Fefc), do qual ela recebeu R$ 200 mil, utilizou a quantia de R$ 34 mil para comprar móveis em uma loja franqueada da rede Carmen Flores em Xangri-Lá, no litoral gaúcho.
Na eleição de 2018, tanto a sede do PSL quanto o comitê de campanha de Carmen ficavam no mesmo lugar, em imóvel alugado na Avenida Ipiranga. Isso indica que ela possivelmente efetuou duas compras de móveis, com dinheiro público, para o mesmo lugar, em uma delas com recursos do partido e outra com verbas da sua candidatura. Nos dois casos, os fornecedores foram lojas vinculadas à marca de Carmen no comércio moveleiro. Ao analisar a compra na loja de Xangri-Lá com dinheiro do Fefc, a área técnica do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) apontou que o caso pode configurar "aplicação irregular de recursos públicos".
Outro negócio da empresária com familiares durante a campanha foi a locação de um imóvel na Avenida Ipiranga junto à filha. Trata-se do local que serviu de sede partidária do PSL e comitê de campanha da então candidata ao Senado. Houve contrato de locação em duplicidade entre maio e outubro de 2018: ao mesmo tem em que estava locado à candidatura Carmen por R$ 40 mil ao mês, custava, por igual período, a quantia de R$ 66 mil ao diretório estadual da legenda. A defesa alega que, entre agosto, setembro e outubro, a sigla foi isentada de fazer as quitações.
As contas de campanha do diretório gaúcho do PSL estão em fase de julgamento no TRE, mas ainda não houve decisão. São partes ativas do processo, além do partido, a ex-presidente Carmen e Marco Dangui, que atuou como tesoureiro da legenda.
CONTRAPONTOS
O que diz Lucas Ceccacci, advogado de Carmen Flores
"Como já afirmado anteriormente, não há impedimento legal para aquisição de bens em lojas de propriedade de parentes. Não há aplicação irregular uma vez que os valores estão de acordo com o mercado. Desconhece a informação (se refere à declaração de Carlos Igor Inácio dos Santos, que assegurou não ter feito a venda) e afirma que toda aquisição de bens foi feita com nota fiscal e pagamento com cheque nominal. Os documentos comprobatórios estão nos autos da prestação de contas. São móveis diferentes (comprados durante a eleição em duas empresas que detêm franquias Carmen Flores). Não há duplicidade na compra".
O que diz Carlos Igor Inácio dos Santos, proprietário da C. I. dos Santos Móveis Eireli (franquia da loja Carmen Flores atualmente em Tramandaí)
"Isso é uma surpresa para mim. Eu não tenho conhecimento de que foi feita alguma coisa com meu CNPJ em nome do partido. Não entreguei móveis e não autorizei a compra no meu CNPJ".