Antecessor de Onyx Lorenzoni na Casa Civil, o ex-ministro Eliseu Padilha considera compreensível a intenção do novo governo de analisar com lupa os gastos e nomeações do final da gestão de Michel Temer, como forma de confirmar a mensagem de moralização da política passada durante a campanha de Jair Bolsonaro. Ele afirma que passou todas as informações solicitadas pela nova equipe e que "não houve nada secreto" na sua gestão à frente da pasta.
— Não me incomoda. No processo de transição franqueamos tudo ao novo governo. Não haverá surpresa. Politicamente, eles prometem uma limpeza. É coerente pelo que disseram na campanha. Não vejo problemas.
Durante a primeira reunião ministerial de sua equipe, o presidente Jair Bolsonaro determinou aos 22 ministros do governo, nesta quinta-feira (3), que seja feito um pente-fino nos recursos repassados pela gestão de Michel Temer, especialmente nos últimos 30 dias. Segundo o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, "o alto volume" de movimentação financeira chamou atenção. Bolsonaro também pediu um levantamento do número de imóveis da União e deu carta branca para que os ministros exonerem servidores sem estabilidade que foram indicados nos últimos governos.
Em entrevista coletiva, Onyx disse que houve "movimentação incomum de exonerações e indicações nos últimos 30 dias" e que a revisão dos últimos atos do governo anterior buscará o destino de repasses e a revisão sobre a necessidade dos atos.
— Foi solicitado que todos os ministros façam revisão, pasta por pasta, de exonerações, transferências, e também sobre a movimentação financeira dos últimos 30 dias, particularmente dos últimos 15 dias. O alto volume (financeiro) causou estranheza, o presidente quer um relatório de cada um (dos ministros) para saber para onde foi o dinheiro, por que foi e se tem suporte — explicou.
Um dos primeiros atos de Onyx na Casa Civil foi a exoneração de 320 ocupantes de cargos de confiança, publicada no Diário Oficial da União desta quinta. Segundo ele, todos os ministros estão autorizados a fazer o mesmo, que ele chama de "desaparelhar" o governo.
— Nós estamos tendo a coragem de fazer o que talvez tenha faltado ao governo que terminou no dia 31, de, logo no início, ir limpando a casa, que é o único de jeito de tocar nossas ideias, nossos conceitos — sustentou.
O chefe da Casa Civil negou que a medida seja uma "caça às bruxas".
— Justamente, para não ter (caça às bruxas) é que nós exoneramos todos. O primeiro critério é técnico, competência, e depois nós faremos uma análise de quem indicou, por que indicou — disse o ministro, que ressaltou não ver "nenhum sentido" em o governo manter em seus quadros pessoas que não defendam as bandeiras da gestão.
Ao contrário de Onyx, Padilha não exonerou automaticamente quem ocupava cargos em comissão. Com o tempo, a pasta passou a contar apenas com servidores alinhados com o governo Temer.