Quatro anos depois de pisar no Piratini como governador empossado, José Ivo Sartori (MDB) deixa o palácio, neste 1º de janeiro de 2019, satisfeito com os resultados colhidos durante o mandato. Diante do seu sucessor, Eduardo Leite (PSDB), o emedebista disse ter enxergado, lá em 2015, que o Rio Grande do Sul havia se distanciado demais da sociedade, "vivendo muito em si, por si e para si", e que um remédio amargo seria inevitável.
— Logo depois de dizer essas palavras, eu assinava um decreto de severa contenção de gastos. No dia seguinte, já recebia os primeiros protestos de setores contrários — disse Sartori, em referência à medidas tomadas, como suspensão, por 180 dias, de pagamentos a fornecedores do governo anterior, suspensão de nomeação de aprovados em concursos, criação de novos cargos públicos e redução de gastos com viagens, diárias e serviços.
Ao longo das duas páginas de discurso, lidas em 10 minutos, Sartori apresentou-se como o governador que tirou de baixo do tapete a crise do Rio Grande do Sul e a expôs à sociedade ao passo em que caminhava para equilibrar as finanças. Mesmo com ajustes feitos, o governo deve fechar 2018 com rombo financeiro de R$ 7,5 bilhões, o equivalente a cinco folhas de pagamento do Executivo.
— Percorremos o Estado inteiro para falar da realidade financeira. A partir daí, fomos mexendo numa cultura política arcaica, segundo a qual é possível gastar mais do que se arrecada — prosseguiu.
Antes de passar o bastão, repetiu mantras utilizados em diversos momentos da sua estadia no Piratini, como os discursos de que "resolver a situação do Estado não é obra de um homem só, nem de um governo só", que seu governo recusou "promessas fáceis" e que não se rendeu "às demagogias e à idolatria pelo poder".
— Preferi a dureza da verdade libertadora à doçura da mentira embalada em frases de efeito. Fizemos a maior mudança administrativa da história do Estado. Implantamos a cultura da governança por metas e resultados.
As linhas seguintes diziam que o legado de seu governo é a construção de estradas e presídios, a recuperação de escolas, o investimento na estrutura policial e a redução do rombo financeiro. Em relação à segurança pública, só em 27 de dezembro, a Brigada Militar recebeu 170 novas viaturas — 90 motocicletas, 70 caminhonetes e 10 furgões. Já quanto ao déficit financeiro, Sartori deixa para Eduardo Leite as folhas de dezembro e do 13º salário do funcionalismo, débitos que o emedebista não herdou de Tarso Gento (PT) em janeiro 2015.
— Saio de cabeça erguida e com paz de espírito, honrado por ter sido governador do Estado do Rio Grande do Sul. Tudo isso me orgulha e me torna grato. Mas o que mais me honra são os valores que cultivamos: verdade, transparência, probidade, ética, respeito e, principalmente, compromisso com o interesse público.
Quando citou o nome de Eduardo Leite pela primeira vez, já no fim da fala, foi para pedir continuidade e depositar-lhe confiança:
— Sei que estás consciente de que não podemos perder o rumo, pois a solução para os problemas do Rio Grande do Sul exige, acima de tudo, perseverança e coragem. Os passos mais difíceis são os primeiros, e eles já foram dados.
Sartori finalizou seu discurso desejando que seu adversário no pleito de outubro "também resista às pressões e aos grupos de interesse, e foque sempre no bem comum", e que a economia nacional "impulsione a arrecadação do Estado", diferente do que aconteceu em seu governo, conforme avaliação própria.
— Eu serei um colaborador prestativo sempre que houver necessidade de defender o Rio Grande. Este palácio tem uma porta da frente. Foi por ela que eu entrei há quatro anos, e é por ela que hoje irei sair. Combatemos o bom combate, e preservamos o sentido da boa política — que é servir.