Lideranças do PSOL no Rio Grande do Sul reagiram com surpresa e indignação à decisão do deputado federal Jean Wyllys de deixar o país e abandonar o novo mandato, que começa em 1º de fevereiro, após receber ameaças. O deputado estadual Pedro Ruas, que não conseguiu se reeleger para a nova legislatura, se disse entristecido pelos ataques sofridos pelo colega de partido.
— Vejo isso com muita tristeza. Tenho muito apreço pelo Jean. Gosto dele, admiro ele. Sei que a vida pública é dura. O nível de ameaças que ele recebe é pesado, principalmente, dessa ultradireita nacional, simbolizada hoje por esses grupos bolsonaristas.
Ruas afirmou que o colega de partido é um homem forte, que já enfrentou muitos desafios, principalmente, no âmbito das questões de gênero e em relação à população LGBT+, mas que ele "pode ter chegado a um limite".
— Eu lamento muito. É uma perda grande. Uma perda para o PSOL, para a luta da diversidade e para a luta contra a descriminação. Todos os mandatos do Jean Wyllys foram fundamentais. Ele era fundamental no Congresso Nacional — pontuou.
A deputada estadual eleita Luciana Genro também disse que recebeu a decisão de Wyllys com surpresa, destacando que os fatores que influenciaram no posicionamento do parlamentar causam indignação:
— Assim como todos do PSOL, estamos surpresos e indignados. Não com ele, mas com essa força política que caluniou e ameaçou ele, fazendo ele chegar a esse ponto de renunciar ao mandato. Acho lamentável que a gente tenha chegado a essa situação, em que ele se sinta incapacitado para continuar vivendo no Brasil.
Luciana disse que o presidente nacional do partido já informou a Executiva sobre a decisão e que a sigla tentou fazer o parlamentar mudar de ideia:
— Eles tentaram dissuadir ele, tentar fazer com que ele mudasse de ideia, mas não tiveram sucesso.
O partido vem sendo alvo de ataques nos últimos anos. Em março de 2018, a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e o motorista dela, Anderson Gomes, foram mortos a tiros no centro da cidade. O padrinho político de Marielle, deputado federal eleito Marcelo Freixo, anda com escolta policial desde que foi relator da CPI das milícias no Rio. Ele chegou a deixar o país em 2011, após sofrer ameaças de morte, mas retornou duas semanas depois. Em dezembro de 2018, a polícia desarticulou plano de milicianos para tentar matar o parlamentar. Luciana disse ver esse cenário com preocupação:
— É uma situação de fato muito tensa para todos nós que somos de esquerda, que defendemos os direitos humanos e que não aceitamos nos intimidar com as ameaças.
A deputada estadual eleita disse que o fato de David Miranda, vereador do Rio de Janeiro, ser o primeiro suplente para a vaga deixada por Wyllys a conforta, pois ele tem o mesmo perfil combativo:
— É uma perda grande, mas me conforta a ideia de que o suplente dele, o David Miranda, é um militante muito combativo. Também é militante LGBT assumido, é casado com o jornalista Glenn Greenwald. Então a pauta LGBT vai continuar tendo representação na Câmara Federal de maneira muito intensa, muito forte. Nesse aspecto, me conforta o fato de ele ter um suplente tão qualificado.
Wyllys representou o Rio de Janeiro na Câmara dos Deputados em dois mandato (2011-2015 e 2015-2019) e estava prestes a iniciar o terceiro (2019-2023), no próximo dia 1º de fevereiro.