Sob aplausos e gritos de "me representa" e "fora Temer", o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha – maior distinção da Assembleia Legislativa do Estado – em cerimônia na noite desta terça-feira, no Teatro Dante Barone. No palco do teatro, Jean foi recebido com flores e abraços por representantes da causa LGBT e de movimentos sociais.
A medalha faz parte da cota da deputada estadual Manuela d'Ávila (PC do B), que decidiu homenagear o parlamentar – cada deputado pode entregar a honraria uma única vez durante todo seu mandato na Casa. A homenagem, no entanto, desagradou alguns integrantes da Assembleia, como Marcel Van Hattem e Sérgio Turra, ambos do PP, que alegaram que o deputado do PSOL não teria "serviços prestados" ao Estado.
– Não faço nada em troca de premiação, faço ações pelo que é justo. Recebo essa medalha para provar que o Rio Grande do Sul não é essa minoria barulhenta e odiosa que discursa contra essa cerimônia. Essa minoria desrespeita a mitologia farroupilha – disse Jean, em seu discurso.
O discurso do parlamentar era constantemente interrompido por aplausos e gritos de ordem vindos da plateia. O local não tingiu sua capacidade máxima, mas quase lotou, restando apenas três fileiras de assentos vazias.
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Antes de entregar a medalha, Manuela defendeu em discurso sua decisão de agraciar Jean, que, segundo ela, promove "o grito pela liberdade, igualdade e humanidade para todo o país" e, portanto, "defende causas que influenciam diretamente o Rio Grande do Sul".
– Tu (Jean) inspiras quando lutas pelos direitos constitucionais para todos os brasileiros e brasileiras, para gaúchos e gaúchas. O Rio Grande do Sul faz parte do Brasil, e o Brasil não existe sem o Rio Grande do Sul – disse a deputada estadual.
Além de Manuela, também participaram do evento os deputados Jeferson Fernandes (PT), Stela Farias (PT), Miriam Marroni (PT) e Juliana Brizola (PDT), representando a presidência da Assembleia – Edegar Pretto (PT) não compareceu, pois está em licença paternidade.
– É uma noite de muita emoção. Muitas vezes falta emoção e coração aqui dentro. Estamos vivendo um avanço do conservadorismo no país, e o Jean representa a luta contra esse movimento no parlamento. São forças conservadoras que meu avô (Leonel Brizola) outrora lutou contra. O Jean simboliza um grito de socorro daqueles que são oprimidos todos os dias – disse Juliana.
Visivelmente emocionado, Jean Wyllys agradeceu a honraria e discursou, destacando, entre outros pontos, seu início de vida, as dificuldades enfrentadas pela sua orientação sexual, os direitos humanos no Brasil e, principalmente, a alegria e a representatividade de receber a distinção no parlamento gaúcho. O deputado também usou a figura de Anita Garibaldi para simbolizar a luta contra a diferença de gênero em uma sociedade machista:
– Anita Garibaldi foi além da luta contra a exploração do império, ela defendeu a liberdade de gênero em uma sociedade machista e opressora – afirmou o deputado federal.
Após a cerimônia de entrega da medalha de Mérito Farroupilha ao parlamentar, o Teatro Dante Barone foi palco de debate entre Jean, convidados e os espectadores sobre os direitos humanos no Brasil.
Polêmica
A homenagem a Jean Wyllys dividiu integrantes da Assembleia. De um lado,o grupo de Manuela defendia a entrega da medalha pela atuação do parlamentar no Congresso em favor da população LGBT. De outro, deputados do PP questionavam a validade da medida e protocolaram requerimento junto à Mesa Diretora em que sugerem alterações nas regras para a condecoração com o Mérito Farroupilha.
– Questionam o que ele (Wyllys) fez pelo Rio Grande do Sul. Talvez isso decorra de um desconhecimento de que um deputado federal faz leis para o Brasil inteiro. O Jean tem projetos de lei relevantes relacionados ao combate ao HIV e à aids – defendeu Manuela, pontuando que Porto Alegre é uma das capitais brasileiras com maior número de pessoas infectadas pelo HIV.
– Ouvimos muita gente dizendo que não conhece nenhum serviço prestado (por Wyllys) ao Estado do Rio Grande do Sul perto do que a gente imagina ser a importância desta honraria. Não consigo justificar – criticou Van Hattem.
O Mérito Farroupilha só pode ser entregue uma vez durante todo o mandato por cada um dos deputados estaduais. A exceção é o presidente da Assembleia, que tem direito a cinco medalhas do Mérito Farroupilha durante o período em que comandar o Legislativo gaúcho.
Pelas regras atuais, cada deputado pode propor a entrega de uma medalha do Mérito Farroupilha a qualquer personalidade por meio de um memorando enviado à Mesa Diretora da Assembleia. O documento deve conter um currículo do homenageado e a justificativa para a entrega da medalha. Cabe, então, aos integrantes da Mesa decidir se aprovam ou não o concessão da honraria. No requerimento entregue nesta terça-feira, Van Hattem e Sérgio Turra defendem que os nomes passem pela aprovação de todos os deputados, e não apenas da Mesa Diretora.