Diante das anunciadas propostas do governador Eduardo Leite de mudar os planos de carreira do funcionalismo, uma das principais entidades de representação dos servidores público defende que o governo trate de forma diferente o baixo, o médio e o alto escalão. A Federação Sindical dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul (Fessergs), por meio do presidente Sérgio Arnoud, considera que, se o governo investir na retirada de benefícios de servidores, deve proteger os que ganham menos e propor mudanças para a cúpula do funcionalismo.
Na última semana, o governador afirmou a GaúchaZH que enviará à Assembleia, nos primeiros meses de governo, não apenas os projetos de privatização, mas também de mudanças na previdência e nas carreiras dos servidores.
— Quando foram pagos os últimos salários, até R$ 8 mil, a notícia apontava que 92,5% da folha havia sido paga. Quer dizer que 7,5% do Estado ganham acima de R$ 8 mil. Então, são esses (servidores) aí que devem ter alguma vantagem que pode ser questionada. Existe um nicho, os mais próximos do rei, que são sempre beneficiados. São servidores que recebem aluguel de seus carros para trabalhar, que ganham produtividade e levam para a aposentadoria. São setores muito sensíveis, que nunca foram mexidos e achamos que esse é o grande desafio que o novo governador. Ou seja, Leite tem que ver onde está o problema, para não sacrificar novamente os que ganham R$ 2 mil, R$ 3 mil — avalia Arnoud.
Uma das principais críticas de Arnoud aos anúncios feitos pela gestão Leite até o momento diz respeito à perspectiva de manutenção do congelamento salarial — apontado pela secretária de Planejamento, Leany Lemos, em entrevista publicada nesta segunda-feira (21) em GaúchaZH. Arnoud lembra que os salários já estão congelados desde 2015, primeiro ano do governo Sartori, e argumenta que a medida causa prejuízos para os servidores e para a economia do Estado.
— Não existe carreira de trabalhadores que ficou cinco anos, sem ter, pelo menos, a reposição da inflação. É alarmante, altamente preocupante. O corte da despesa já está no limite, o caminho é o aumento da receita — entende Arnoud.
Helenir Schürer, presidente do Cpers, sindicato que representa os professores e funcionários de escolas, diz que eventuais mudanças na carreira só serão discutidas quando o governo cumprir a lei de pagamento do piso do magistério. Atualmente, o RS paga o piso aos professores gaúchos através de um completivo salarial – e não no plano de carreira.
— No momento em que tivermos salários realmente valorizados, a gente pode discutir a retirada de “penduricalhos”. Agora, é impossível discutir retirar um centavo do bolso dos professores enquanto não tiver o pagamento do piso — avalia a presidente do Cpers.
Entidades cobram diálogo de Leite antes de envio de projetos
Após ter se notabilizado por buscar, dias após ser eleito, o diálogo com os partidos de oposição, o governador Eduardo Leite ainda não procurou duas das maiores entidades de representação do funcionalismo. Tanto a Fessergs quanto o Cpers dizem que solicitaram respostas para os pedidos de audiência com o governador.
— Queremos conversar previamente, senão não adianta. Queremos participar do diálogo enquanto as coisas estão sendo formuladas. Depois de prontas, aí entra aquele esquema de rolo compressor e (o governo) não muda uma vírgula (nos projetos) — disse Arnoud.
A presidente do Cpers, ao avaliar a situação, diz que o sindicato deseja a conversa com o governador “para que não cheguemos no início do ano (letivo) conflituados com essas posições.
A Fessergs representa cerca de 100 mil servidores, entre ativos, inativos e pensionistas. O Cpers, por sua vez, é o sindicato de cerca de 80 mil servidores, dos quais 55% são inativos. Os últimos encontros de Leite com os representantes dos dois sindicatos ocorreu durante a disputa eleitoral.