Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou movimentações atípicas entre contas de Nathalia Melo de Queiroz, assessora de Jair Bolsonaro (PSL) na Câmara dos Deputados até outubro deste ano, e o pai dela, Fabrício José Carlos de Queiroz.
Fabrício, que é policial militar, foi assessor do deputado estadual fluminense Flávio Bolsonaro (PSL) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e teve, segundo o Coaf, transações anormais em uma conta bancária, movimentando R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e o mesmo mês de 2017. Uma das transações é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama Michele Bolsonaro.
O nome de Queiroz consta da folha de pagamento da Alerj de setembro, com salário de R$ 8.517. Ele era lotado com cargo em comissão de Assessor Parlamentar III, símbolo CCDAL-3, no gabinete de Flávio Bolsonaro. Conforme o relatório do Coaf, ele ainda acumulava rendimentos mensais de R$ 12,6 mil da Polícia Militar.
Filha do PM foi nomeada em dezembro de 2016
Nathalia é citada em dois trechos do relatório. O documento não deixa claro os valores individuais das transferências entre ela e seu pai, mas, junto ao nome de Nathalia, está o valor total de R$ 84 mil. A filha do PM foi nomeada em dezembro de 2016 para trabalhar como secretária parlamentar no gabinete de Bolsonaro na Câmara.
No dia 15 de outubro deste ano, ela foi exonerada - mesma data em que seu pai deixou o gabinete de Flávio na Alerj. Nathalia recebeu em setembro, pelo gabinete de Jair, um salário de R$ 10.088,42.
Flávio Bolsonaro, que é filho do presidente eleito, vai assumir a partir do ano que vem uma cadeira no Senado.
Origem das investigações
O documento do Coaf que mapeou, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), as movimentações financeiras dos servidores da Alerj, foi anexado na investigação que deu origem à Operação Furna da Onça, que levou à prisão 10 deputados estaduais do Rio.
O MPF divulgou, na quinta-feira (6), nota na qual afirma que o relatório foi espontaneamente difundido pelo Coaf em um processo de compartilhamento de informações entre os órgãos de investigação.
"Como o relatório relaciona um número maior de pessoas, nem todos os nomes ali citados foram incluídos nas apurações, sobretudo porque nem todas as movimentações atípicas são, necessariamente, ilícitas", afirmou o MPF.
Flávio Bolsonaro usou o Twitter nesta quinta para defender o ex-funcionário. "Fabricio Queiroz trabalhou comigo por mais de dez anos e sempre foi da minha confiança", escreveu o filho do presidente eleito. "Nunca soube de algo que desabonasse sua conduta."
Queiroz disse que não iria se pronunciar. Nathalia não foi localizada. Procurado, o gabinete de Jair Bolsonaro não se manifestou.
O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), ingressou nesta quinta na procuradoria-geral da República com representação criminal pedindo para que seja instaurado procedimento de investigação para apurar "possíveis ilícitos criminais e administrativos" envolvendo o deputado estadual Flávio Bolsonaro e a futura primeira-dama da República, Michelle Bolsonaro".