O cheque de R$ 24 mil depositado pelo PM Fabrício Queiroz, então assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), em uma conta da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, se tornou nos últimos dias a principal preocupação do presidente eleito, Jair Bolsonaro, e seu grupo mais próximo. Ontem, dois dias depois de o jornal O Estado de S. Paulo revelar que relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta de Queiroz, uma versão do repasse para Michelle foi apresentada pelo próprio presidente eleito.
Ao site O Antagonista, Bolsonaro confirmou uma justificativa que vinha sendo difundida reservadamente ao longo do dia por seus auxiliares próximos. O repasse, conforme disse Bolsonaro, se refere a uma parcela do pagamento de um débito antigo de Queiroz com ele.
"Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40 mil", afirmou Bolsonaro ao site.
O então assessor de Flávio Bolsonaro foi exonerado em 15 de outubro. Ele tinha vencimentos de cerca de R$ 23 mil mensais. O total de R$ 1,2 milhão foi movimentado em sua conta no período de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. O documento do Coaf lista dados financeiros e patrimoniais de funcionários da Assembleia Legislativa do Rio, alvo da Operação Furna da Onça. Nela, foram presos dez deputados estaduais.
'Plausível'
Flávio Bolsonaro saiu ontem em defesa de Queiroz. Ele disse que o ex-assessor lhe apresentou "uma explicação plausível" para a movimentação de R$ 1,2 milhão em um ano. Se recusou três vezes, porém, a revelar a versão apresentada pelo ex-assessor. A justificativa de que estava atendendo a um pedido do advogado de Queiroz.
"Assim que ele for chamado ao Ministério Público, vai dar o devido esclarecimento."
Flávio disse ainda concordar que a quantia movimentada pelo ex-assessor em um ano "é muito dinheiro". "O acusado é ele (Queiroz), não eu", ponderou. "A versão que ele coloca é bastante plausível, mas não sou eu que tenho de ser convencido, é o MP."
Segundo a versão divulgada por aliados de Bolsonaro, o pagamento ao presidente eleito teria sido acertado para ser feito em parcelas de R$ 4 mil. Queiroz, porém, teria conseguido um montante maior e enviado por cheque para Michelle. O empréstimo teria sido feito para pagamento de um automóvel. A versão não explica por que o depósito não foi feito diretamente em uma conta do presidente eleito. Também não esclarece se há documentos que comprovem que o dinheiro foi realmente emprestado.
Auxiliares afirmam que Bolsonaro conheceu Queiroz em 1984. Os dois integravam a mesma turma de um curso no 8.º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista.
Agenda
Ontem, o presidente eleito cancelou um compromisso na Academia da Força Aérea, em Pirassununga (SP). Lá, participaria da cerimônia de declaração dos novos aspirantes da Aeronáutica. Em seu perfil no Twitter, alegou recomendação médica devido à rotina e agenda intensas nos últimos dias "e poucas horas de sono".
Ao Antagonista, Bolsonaro justificou também o fato de o repasse de Queiroz não ter ido para a sua conta: "Eu podia ter botado na minha conta. Foi para a conta da minha esposa, porque eu não tenho tempo de sair. Essa é a história, nada além disso. Não quero esconder nada, não é nossa intenção."
Segundo o site, ele afirmou também que não registrou a operação no Imposto de Renda.
Bolsonaro disse ainda que, após servir com Queiroz na Brigada Paraquedista, o colega passou no concurso da PM e depois foi nomeado no gabinete do filho na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O presidente eleito também afirmou ao site que cortou o contato com Queiroz até que ele apresente explicações ao Ministério Público Federal.
O jornal O Estado de S. Paulo não conseguiu contato com Bolsonaro, nem com a futura primeira-dama, para que comentassem o assunto. Queiroz recusa-se a dar entrevista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.