Após uma manhã inteira de silêncio, um dos mais notórios rostos da Operação Lava-Jato, o procurador da República Deltan Dallagnol, saudou a decisão do juiz federal Sergio Moro de aceitar convite para ser ministro da Justiça. O magistrado anunciou sua decisão nesta quinta-feira (1º).
"Minha avaliação pessoal — não estou falando neste post pelas equipes que trabalham na Lava-Jato, que podem ter diferentes visões desse assunto — é de que a decisão é bastante positiva para a causa anticorrupção e para o país", tuitou o paranaense Dallagnol, que chefia a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) montada em Curitiba pela Operação Lava-Jato.
Dallagnol ressaltou que fala em nome próprio e não de colegas, que decidiram manter silêncio. GaúchaZH apurou que outros procuradores não partilham desse otimismo e acreditam que a decisão de Moro pode comprometer a imagem de isenção buscada pela Lava-Jato. Afinal, o magistrado paranaense condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e agora aceita ser ministro do maior adversário do lulismo, que é o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Dallagnol falou que considera mais importante para o país mudar o ambiente que favorece a corrupção do que futuros resultados da Lava-Jato. Ele acredita que Moro poderá ajudar, como ministro, a aperfeiçoar e implementar propostas substanciais, como as 10 Medidas e as Novas Medidas contra a impunidade no país (sugeridas pelo MPF).
Dallagnol ressalta que a Lava-Jato seguirá com outros magistrados, até porque há ainda bastante por fazer e será feito.
"Perde-se o grande talento de um juiz, mas a maior parte da equipe seguirá firme lutando contra a corrupção, como profissionais, na operação, e como cidadãos. Como Ministro da Justiça, o juiz Sergio Moro poderá impactar ainda órgãos muito importantes para o controle da corrupção, como a Polícia Federal, a CGU e o COAF, ampliando sua influência positiva dos casos em Curitiba para todo o país", salientou o procurador-chefe da Lava-Jato.
Dallagnol considera que, se o juiz Moro tivesse aspiração política, ele poderia ter se tornado presidente ou senador nas últimas eleições, com alta probabilidade de êxito.
"Mentiras como essa serão repetidas, mas não vão abalar a LJ (Lava-Jato), em que atuam não só um juiz, mas 14 da primeira à última instância. O que vejo é sim uma pessoa que já demonstrou, com árduo trabalho, elevada qualidade técnica e muito sacrifício pessoal ao longo de quatro anos, que se somaram a uma trajetória pretérita respeitada, o seu comprometimento com o interesse público, com o serviço à sociedade e com o país. Vejo ainda o aproveitamento de uma oportunidade pelo juiz para dar o seu melhor a fim de construir uma sociedade com mais justiça social, mais democracia e mais segurança, assim como menos corrupção, menos impunidade e menos crime organizado", finalizou Dallagnol.
É o segundo procurador da República a se manifestar sobre Moro no ministério. Na quarta-feira o procurador da República Carlos Fernando Lima, que foi da Lava-Jato até o início deste ano, apoiou a hipótese de que o magistrado aceitasse ser ministro - algo confirmado nesta quinta-feira.