Grande estrela das investigações da Operação Lava-Jato, a palavra propina não para de ganhar novos apelidos carinhosos. O mais recente, "tico-tico", foi adotado pelo candidato ao Senado e ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB), preso na última terça-feira (11) pela Polícia Federal, para se referir ao recebimento de uma parcela de dinheiro.
O nome da ave brasileira se soma a uma infinidade de denominações que esse crime de corrupção têm recebido desde o início das investigações, em 2015. Confira:
Tico-tico
"Já entrou um tico-tico lá que tava faltando, atrasado". A frase está em um diálogo divulgado nesta quarta-feira (12) pela Polícia Federal entre o candidato ao Senado e ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) com o ex-deputado Tony Garcia – doleiro e um dos delatores das supostas fraudes que levaram Richa à prisão na última terça-feira (11). No diálogo com Garcia, Richa teria confirmado o recebimento de uma parcela de dinheiro pago pelo empresário Celso Frare, que também teve a prisão decretada na mesma operação.
Atas
Outro inquérito da PF contém áudios que apontam uma suposta entrega de dinheiro de um intermediário ao coronel João Baptista Lima Filho, amigo pessoal do presidente Michel Temer. Nos diálogos, anexados ao inquérito da Polícia Federal que investiga suposto pagamento de R$ 10 milhões em propina da Odebrecht ao MDB, o Coronel Lima agenda três encontros para receber "atas". No áudio, ele afirma que: "a última, de sexta-feira, em que foi entregue ao Silva as atas. Elas não foram iguais às atas anteriores. Um pouco abaixo."
Oxigênio
Após a prisão do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), em novembro de 2016, veio à tona o termo com que o ex-secretário estadual de Obras Hudson Braga tratava o suborno exigido das empresas em contratos de grandes obras: "oxigênio". Segundo O Globo, o apelido foi relevado nas delações premiadas das empreiteiras Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez.
Acarajé
Em fevereiro de 2016, descobriu-se que o dinheiro desviado também tinha nome de comida. Segundo investigações, porções de "acarajé" eram entregues pela ex-funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares a executivos da empreiteira. Depois de presa, mesmo a PF tendo flagrado e-mails, a secretária disse que levava a tradicional iguaria baiana – mas não colou. Os "acarajés", em porções de 50, seriam supostamente remetidos de Salvador para o Rio de Janeiro e "chegavam quentinhos", conforme relatado nos e-mails analisados. A 23ª fase, quando foram presos o publicitário baiano João Santana e sua mulher, Monica Moura, inclusive foi batizada com o nome do bolinho.
Pixuleco
Talvez o mais famoso apelido, "pixuleco" deu nome às 17ª e 18ª fases da Operação Lava-Jato, deflagradas em setembro de 2015. Segundo o dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, a gíria era usada pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para se referir à propina que recolhia das empresas a cada novo contrato com a Petrobras. Na primeira das operações Pixuleco, foi preso o ex-ministro do governo Lula José Dirceu.
Encomenda, Assistência Social, entre outros
Criar apelido para propina não é uma originalidade da Lava-Jato. No esquema do Mensalão, o termo usado pelos investigados era "pegar uma encomenda". Já Carlinhos Cachoeira chamava de "assistência social".No cinema, um dos sinônimos mais conhecidos é o "faz-me rir", que aparece no longa brasileiro Tropa de Elite. Na literatura, o escritor Machado de Assis usou outros dois: "molhadura" e "gorjeta".