Relatório da Polícia Federal indica que executivos ligados à empreiteira Odebrecht usavam em suas correspondências a palavra "acarajé" como senha para entrega de valores supostamente ilícitos. O resgate de e-mails trocados entre alvos da 23.ª etapa da Operação Lava-Jato, deflagrada na última segunda-feira, mostra que esse tipo de expediente foi usado para blindar transações.
A alusão ao famoso quitute baiano encontrada nos registros de conversas, deu nome à operação, chamada de Acarajé, que culminou com a prisão do jornalista João Santana e de sua mulher e sócia, Mônica Moura, marqueteiros das campanhas presidenciais de Lula (2006), Dilma (2010 e 2014). Santana e Mônica, que estavam a trabalho na República Dominicana, se entregaram à PF na terça-feira, quando voltaram ao Brasil.
Segundo o relatório, quem providenciava os "acarajés" era a secretária da Odebrecht Maria Lúcia Guimarães Tavares que, aponta a PF, operava contabilidade paralela da empreiteira.
"Tio Bel, você consegue me fazer chegar mais 50 acarajés na 4ª feira à tarde (por volta das 15hs) no escritório da OOG, no Rio? Estou no México, mas chego de volta na 4ª de manhã", solicitou Roberto Prisco Paraíso Ramos a Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho em mensagem do dia 27 de janeiro de 2014, às 14h33min.
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Em outra mensagem, de 29 de outubro de 2013, Ramos havia feito solicitação semelhante, usando o mesmo código.
"Meu Tio, Vou estar amanhã e depois em SP; será que dava para eu trazer uns 50 acarajés dos 500 que tenho com você? Ou posso comprar aqui mesmo, no Rio? Tem alguma bahiana (sic) de confiança, aqui?"
Em uma das mensagens, a PF cita possível referência ao presidente afastado da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, preso pela força-tarefa da Lava Jato desde 19 de junho de 2015 em Curitiba, acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Por meio de nota, a Construtora Norberto Odebrecht diz que "não tem conhecimento da planilha apresentada pela autoridade policial e não tem como comentar a sua veracidade ou significado."
Sobre a prisão de Santana e Mônica, a defesa do casal divulgou nota em resposta à decisão do juiz Sérgio Moro em prorrogar as prisões temporárias por mais cinco dias.
"Se o próprio Juiz concorda, em sua decisão, que é prematura qualquer conclusão sobre os fatos, deveria ter prevalecido a liberdade, como corolário do milenar princípio do 'In dubio pro reo', ou seja, 'na dúvida, a favor do réu'", diz o texto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.