Um novo ingrediente mostra como empresas terceirizadas teriam se tornado cabide de empregos de pessoas indicadas por prefeitos e vereadores do Estado. Em Triunfo, Daniel Aguilheiro, irmão do presidente da Câmara de Vereadores, Nelson Aguilheiro (PDT), teria sido contratado como segurança, mesmo sem ter curso de formação na área e até mesmo uniforme e armas. O suposto vigia diz que conseguiu o posto de trabalho em razão do vínculo familiar e por ter feito campanha para o prefeito do município.
Nelson confirma que o irmão trabalha na empresa terceirizada pela prefeitura, mas nega que Daniel tenha pedido o emprego.
Em reportagem que foi ao ar no Fantástico, domingo, Giovani Grizotti, da RBS TV, mostra que o esquema ocorreria também em Guaíba e Triunfo. Por trás dos contratos, seriam comuns licitações irregulares e pagamentos de propina.
Confira como funcionaria o esquemas em três cidades do Estado
Canoas
A acusação de a prefeitura de Canoas participar do esquema de fraude parte de ex-diretora de uma secretaria do município, então responsável por contratos na área de assistência social. Ela mostra currículos que recebia de vereadores e assessores ligados ao prefeito Luiz Carlos Busato (PTB). O objetivo seria acomodar essas pessoas em terceirizadas.
O grupo Gamp, que administra unidades de saúde e assistência social, aceitaria indicações políticas em seu quadro de servidores, de acordo com o então diretor da empresa, Régis Marinho. Isabel Hartmann, diretora da Coopas, cooperativa de profissionais da área social, também admitiu que o esquema existe e serviria para garantir pagamento de suborno aos contratantes.
Contrapontos
O que diz a prefeitura de Canoas
Nega as indicações políticas e diz que as vagas são definidas por banco de oportunidades.
O que diz a Coopas
A cooperativa não retornou os contatos da reportagem.
O que diz o Grupo Gamp
O diretor do grupo, Régis Marinho, foi demitido após a reportagem ser veiculada no Fantástico.
Triunfo
Terceirizadas também funcionariam como cabides de emprego para políticos em Triunfo, conforme relato de um ex-secretário da prefeitura:
– O critério não é profissional, é político – disse um ex-servidor.
Entre as terceirizadas que mantêm contrato está a Muhl, de Lajeado. Em gravação, o proprietário, Valmor Muhl, admitiu que a empresa não realizou processo seletivo para contratar vigias para fazer a guarda em prédios públicos e que “100%” dos trabalhadores seriam apadrinhados do prefeito e de vereadores.
O contrato, segundo ele, rende à empresa R$ 500 mil por mês. Afirmou, ainda, que teria havido pagamento de propina.
A reportagem esteve nos locais para saber se havia segurança noturna de prédios públicos. Foi constatado que a maioria sequer apareceu para trabalhar.
Contrapontos
O que diz a Muhl
“Todas as contratações são legais.”
O que diz o prefeito de triunfo
Valdair Kuhn negou esquema.
O que diz a prefeitura
O contrato com a Muhl está rescindido desde 14 de junho – além disso, a contratada não presta serviço desde o dia 6/6.
Guaíba
No município, o vereador afastado Renan Pereira (PTB) é investigado pelo Ministério Público por supostamente se beneficiar de contratos firmados entre prefeitura e empresas terceirizadas na área da saúde.
Além de fornecer mão de obra para essas empresas, também teria indicado trabalhadores para atuarem em unidades de saúde do município, transferindo para outros locais servidores concursados.
– Eles nos arrancaram do nosso local, do nosso horário, reduziram nossa remuneração para botar pessoas por indicação política – protesta a técnica de enfermagem Babara Marcolin.
Contrapontos
O que diz Renan Pereira
A defesa afirma que, “Pereira ainda aguarda o chamado das autoridades competentes de modo a prestar todos os esclarecimentos necessários (...) Buscará nos tribunais o direito de retornar às suas atividades e à presidência da Câmara de Vereadores.”
O que diz a prefeitura de Guaíba
Por email, a assessoria de comunicação informou que "o processo de contratação de novos profissionais para atuação no Pronto Atendimento contemplou técnicos de enfermagem. Servidores concursados com essa formação foram destinados às unidades de saúde, uma vez que são concursados do município, não exclusivamente do Pronto Atendimento". Diz, ainda, que apoia "a investigação dos órgãos de controle, bem como, internamente, segue apurando denúncias de irregularidades para tomar todas as medidas cabíveis".