Oito brasileiros tiveram adiado o julgamento de suas apelações contra a sentença que os condenou por fazerem parte de uma célula da organização terrorista Estado Islâmico (EI) no Brasil. Um deles é o gaúcho Israel Pedra Mesquita. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede em Porto Alegre, suspendeu nesta terça-feira (8), o julgamento dos recursos dos acusados contra as penas que receberam (entre cinco e 15 anos de prisão) por difundirem os ideais do EI e planejar atentados durante os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.
Oito estavam condenados em primeira instância pelo juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal do Paraná. Eles recorreram contra as sentenças e o TRF4 iniciou o julgamento dos recursos nesta terça-feira, mas interrompeu a sessão porque uma desembargadora, Cláudia Cristofani, pediu vista do processo.
A tendência é de que sejam mantidas as condenações. O relator do caso, desembargador federal Márcio Antônio Rocha, negou provimento a pedidos de reformulação da sentença e absolvição dos condenados, feitos pelos seus defensores. Ele foi acompanhado, no voto, por outro desembargador, Salise Monteiro Sanchotene. Faltava apenas Cláudia Cristofoni votar, mas ela pediu vista. O voto dela deve ser anunciado nas próximas sessões.
O grupo foi desmantelado em julho de 2016, quando a Polícia Federal prendeu doze pessoas acusadas de fazer parte da mesma célula, durante a Operação Hashtag — ocorrida duas semanas antes da cerimônia de abertura da Olimpíada. Outros seis suspeitos (incluindo uma mulher) foram denunciados e aguardam julgamento.
Saiba quem são os oito condenados:
Israel Pedra Mesquita: gaúcho, criava galinhas numa granja familiar em Morro Redondo, próximo a Pelotas. Administrava o grupo secreto Sharia no Brasil Já!, defensor da adoção da lei islâmica radical no país e que tem 4 mil membros. Em um dos seus perfis no Facebook, Israel identificava-se como "Mujahedeen (guerreiro) na empresa Estado Islâmico do Iraque e do Levante". Ele também tinha fotos em que aparecia com uma bandeira do EI. Em um diálogo com Leonid El Kadre, a que a polícia teve acesso, Israel se propõe a vender a casa para ajudar nos planos do grupo terrorista a ser montado. Ele pergunta quantos combatentes são necessários e também diz que, por residir no Sul, pode comprar armas no Uruguai. "É uma fonte de renda para nos financiar, além dos saques e dos espólios", argumentou. Foi condenado a seis anos e três meses de reclusão, em regime fechado. Está solto e pode apelar em liberdade.
Leonid El Kadre de Melo: mato-grossense, 35 anos, de origem libanesa, trabalhava como mecânico de uma agropecuária em Campos de Júlio (Mato Grosso). Ex-escoteiro, passou a delinquir na idade adulta. Protagonizou assaltos em Tocantins. Cumpriu 18 anos de pena por homicídio e roubo qualificado naquele Estado (matou um ex-comparsa por desavença quanto ao roubo). Na cadeia se converteu ao islamismo. Chegou a fugir da prisão, situada em Araguaína, mas se reapresentou e estava no final da pena. Cursava faculdade de Engenharia Mecânica. É considerado o mentor ideológico do grupo e conclamava a todos a ações de terrorismo: "Se a intenção for postar fotos de decapitações, mas sem realizar isso com as próprias mãos, me avisem, porque estou fora", desafia, em mensagem no Telegram, interceptada pela PF. Nas mensagens, a polícia identificou que El Kadre tinha planejado viagens à Síria e falava em passagens pela Bolívia e Venezuela para comprar armas. "Já tenho o lugar, conheço toda a região, onde se adquire armas (...) Tudo que preciso é a disponibilidade de vocês".
El Kadre falava nas mensagens que ele e outro comparsa de assaltos sul-mato-grossense, o também mecânico Valdir Pereira da Rocha (Mahmoud), estavam prestes a comprar pistolas chinesas para o grupo. Foi condenado a 15 anos, dez meses e cinco dias de reclusão, em regime fechado. Está preso.
Luís Gustavo de Oliveira: o paulista (com pseudônimo Nur Al Din) ensina, em um chat, a fazer bomba dando um passo a passo. E recomenda um toque de crueldade: cacos de vidro moído na pólvora para causar mais dor e dificuldade de remoção dos fragmentos. Foi sentenciado a seis anos e cinco meses de reclusão, em regime fechado. Está preso.
Fernando Pinheiro Cabral: paulista convertido ao islamismo, confessou em depoimento à PF que pretendia realizar um atentado durante a Parada Gay de São Paulo "em razão da proximidade das Olimpíadas, a fim de aproveitar a mídia em torno desse evento e do Brasil para difusão mundial do ato terrorista". O ato terrorista seria na Rua Augusta, "em razão dessa via concentrar sodomitas, prostitutas, tráfico de drogas, entre outras atitudes consideradas crimes em países árabes", segundo escreveu em mensagens interceptadas pela polícia. Foi condenado a cinco anos e seis meses de reclusão, em regime fechado. Está preso.
Alisson Luan de Oliveira: fluminense de Saquarema (RJ), atendente de supermercado, defendia compra de armas para realizar atos terroristas. Alertou também aos demais membros do grupo para a possibilidade de sofrerem infiltração por parte da polícia. Pegou seis anos e 11 meses de reclusão, em regime fechado. Está preso.
Oziris Moris Lundi dos Santos Azevedo: ex-funcionário da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas. Participava de chat que apoia atos terroristas do Estado Islâmico. Nele, segundo a polícia, ele diz: "Gostei do ataque em Orlando", numa referência à tiros de terroristas que mataram dezenas numa boate gay da Flórida (EUA). Foi condenado a seis anos e três meses de reclusão, em regime fechado. Ele está solto e pode recorrer contra a pena em liberdade.
Levi Ribeiro Fernandes de Jesus: ex-atendente de telemarketing no Paraná, prega a instalação de um califado (governo muçulmano) no Brasil em uma das mensagens interceptadas pela polícia. Levi foi o primeiro a mencionar os Jogos Olímpicos do Rio como "grande oportunidade" de atentado. Foi condenado a seis anos e três meses de reclusão, em regime fechado. Está solto e tem direito a apelar da sentença em liberdade.
Hortêncio Yoshitake, o Teo Yoshi: estudante goiano radicado em São Paulo, era um do mais exaltados na defesa de atos terroristas. Em chat no Facebook, ele cogita realizar atentado semelhante ao da Maratona de Boston, em 2013, no qual bombas recheadas com prego mataram três pessoas e feriram 264. Hortêncio também elogiou outro atentado, que matou dezenas numa boate gay na Flórida. "Tenho vontade de sair para a (avenida) Paulista e mandar todas essas bichas para o inferno", escreveu ao grupo. Foi condenado a seis anos e três meses de reclusão em regime fechado. Está solto e tem direito a apelar da sentença em liberdade.