Criador e vendedor de galinhas de raça no interior de Morro Redondo, Israel Pedra Mesquita, suspeito de planejar ataques terroristas na Olimpíada do Rio de Janeiro, guardava em casa uma bandeira negra com inscrições brancas. A flâmula foi apreendida pela Polícia Federal (PF) no momento da prisão dele, na quinta-feira, durante Operação Hashtag.
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O grupo extremista Estado Islâmico, ao qual Israel teria jurado fidelidade, adota como emblema um tradicional estandarte negro, cor normalmente associada a Maomé e seus descendentes e que remete às conquistas islâmicas do século 8. No tecido, em árabe, está escrito: "Não há Deus senão Alá, Maomé é seu profeta".
A apreensão da bandeira guardada por Israel foi presenciada e relatada por dois vizinhos da família dele, convocados pelos policiais para acompanhar o cumprimento dos mandados, como forma de atestar que não ocorreram abusos. Ambos viram o material. Um desses moradores foi chamado às 5h30min de quinta-feira, permanecendo na pequena chácara de três hectares dos Mesquita por duas horas para testemunhar as buscas.
Ao responder questionamentos dos policiais, Israel disse que tinha conhecimento do significado da bandeira. Segundo os vizinhos, pronunciou palavras em outra língua.
– Acharam uma bandeira preta com letrinhas e desenhos brancos, estava no meio de um monte de roupa. Falaram que era coisa de terrorismo. Aí perguntaram se ele sabia o que significava a bandeira. Ele (Israel) disse que sim, falou umas palavras estranhas, coisas esquisitas. Disse que gostava – descreveu Daltro Cruz, 66 anos, um humilde plantador de pêssego da região, conhecida como Colônia Açoita Cavalo, interior de Morro Redondo, município de 6,2 mil habitantes.
Daltro se assustou quando, ainda sob o céu escuro da madrugada, homens bateram à sua porta se identificado como agentes da PF.
– A gente pensa até que fez algo de errado sem saber. Fiquei assustado. Explicaram que era para testemunhar, que seria rápido. Assinei uns papéis na saída – relatou.
O outro vizinho, este chamado para acompanhar o cumprimento dos mandados por volta das 6h30min, conta que também foram apreendidos o celular e o computador do jovem criador de frangos.
Durante a busca, Israel falou pouco
A ação dentro da residência foi descrita como tranquila. Israel pouco se manifestou. Na maior parte do tempo, permaneceu calado. Ainda dentro de casa, foi algemado. Primeiro, com as mãos para trás. Depois de reclamar de dores nos pulsos, policiais mudaram a posição e ataram as mãos na frente do corpo. Antes de ir embora, a pedido de um agente, arrumou algumas mudas de roupa para levar consigo.
O pai do suspeito repetia copiosamente que estava "muito envergonhado". Na lida do campo, Israel cuidava das galinhas, cortava lenhas e galhos para o fogão a lenha, ajudava o avô, que passa a maior parte do tempo de cama, e apreciava atividades como pescaria. Gostava de cavalos, chimarrão e planejava criar vacas. Não tinha o hábito de sair de casa.
A família se mudou para o interior de Morro Redondo há menos de um mês. Antes da mudança, moravam em Pelotas, no bairro Fragata. Nesta época, Israel fazia bicos como gesseiro. O pai do jovem informou que, ao conversar com policiais, o filho confirmou ter trocado mensagens relacionadas com a investigação pelo Telegram, aplicativo de mensagens semelhante ao WhatsApp. O pai, humilde, assustado e com medo de represálias, acredita que o filho caiu em uma armadilha por ingenuidade. Ele afirma que o primogênito não é terrorista.
– Ele não é um bandido. Ele simplesmente falou com a pessoa errada na hora errada – relatou o pai.
A comunidade de Açoita Cavalo é interiorana. Por ali, paira a calmaria e o silêncio. Do centrinho de Morro Redondo, onde fica a prefeitura e um pequeno comércio, é preciso atravessar cerca de 10 quilômetros de estrada de chão batido, com pedras e buracos. Pontes de madeira estão pelo caminho. As famílias vivem rotinas simples e se sustentam pela agricultura. Alguns plantam, outros criam gado ou produzem leite. Parte é de aposentados. Todo mundo se conhece na região.
Na quinta-feira, a PF prendeu 10 suspeitos, em diversas regiões do Brasil, de planejarem atos terroristas durante a Olimpíada do Rio. Os detidos teriam jurado fidelidade ao Estado Islâmico e, em um chat, trocavam informações sobre possíveis atentados terroristas. Eles também saudaram os ataques recentes em Nice, na França, e Orlando, nos Estados Unidos.
* Zero Hora