A prisão de quatro irmãos da família Albernaz Cordeiro, na manhã desta quinta-feira (3), recoloca em cena nos desdobramentos da Operação Lava-Jato personagens já investigados em outras fases da operação e também em outros casos apurados pela Polícia Federal (PF).
Documentos que constam na investigação da Operação Câmbio Desligo apontam que apenas um deles, Paulo Aramis Albernaz Cordeiro, de codinome "asado", teria feito operações num total de US$ 5,1 milhões entre 2011 e 2014. Conforme delatores, Paulo atuava conjuntamente com os irmãos Antônio Claudio, conhecido como Tonico, Athos Roberto e Carmen Regina. Também é apontada como participante do esquema Suzana Marcon, que é funcionária de Paulo.
Em documento que consta na Justiça Federal do Rio de Janeiro, relativo ao pedido de prisões do Ministério Público Federal (MPF) aceito pelo juiz Marcelo da Costa Bretas, está descrito que:
"Narra o MPF que com o desenrolar das investigações no âmbito das Operações Calicute, Eficiência e Hic et Ubique, todas em curso nesta 7ª Vara Federal Criminal, foi possível desbaratar uma gigantesca Organização Criminosa,responsável por desvio milionário de dinheiro dos cofres públicos do governo do Estado do Rio de Janeiro, cuja liderança é atribuída ao ex-governador Sérgio Cabral dos Santos Filho. Nesse momento, o MPF pretende desbaratar todo o esquema estruturado pelos doleiros-colaboradores, apontando os agentes e paralisando a rede de compra e venda de moedas estrangeiras em mercado paralelo, principalmente, no que diz respeito aos operadores relacionados à organização criminosa chefiada por Sérgio Cabral. Portanto, segundo o MPF, a presente cautelar versa sobre atos ilícitos ligados a crimes de evasão de divisas; de lavagem de dinheiro, inclusive em âmbito transnacional; e contra o sistema financeiro nacional, assim como os elementos que demonstram fortes indícios do entrelaçamento de integrantes dos vários setores da grande organização criminosa instalada no Estado do Rio de Janeiro".
O MPF descreveu no pedido de prisão que os irmãos Albernaz Cordeiro operariam realizando transferências de dólares no Exterior para uma das contas indicadas pelos colaboradores (investigados que fizeram delação premiada) e recebendo reais em contas em Porto Alegre. O dinheiro equivalente à venda dos dólares era entregue aos irmãos Albernaz Cordeiro pelos colaboradores de três formas: dinheiro em espécie em Porto Alegre; depósito em dinheiro em contas fornecidas por Paulo e depósitos de cheques em contas também fornecidas por Paulo.
Algumas das contas usadas eram de empresas em que Paulo e a irmã Carmen figuram como sócios, segundo a investigação. Paulo, Athos, Antonio e Suzana também teriam recebido depósitos em contas pessoais. Em apenas um relatório de inteligência referente às movimentações de contas dos irmãos ou suas empresas, as autoridades analisaram 212 depósitos, em cinco meses, no valor de R$ 4,3 milhões. Também houve saque de mais de R$ 1 milhão em 55 retiradas, e o pagamento de R$ 2,8 milhões de títulos de cobranças diversas.
Operação Xepa
O agrônomo Antônio Cláudio, o Tonico, já havia sido preso em março de 2016, na 26ª Fase da Operação Lava-Jato, batizada de Xepa. Ele negava atuar com operações de câmbio, mas a PF o apontava na investigação como doleiro e um dos operadores do esquema de pagamento de propina mantido pela Odebrecht. Em depoimento durante os dias em que esteve preso em Curitiba,
Tonico detalhou como entregou R$ 1 milhão em seu escritório localizado na Avenida Ceará, na zona norte da Capital.
Disse ter recebido em 18 de agosto de 2014 a missão da secretária Maria Lúcia Guimarães Tavares, lotada no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, responsável pelos pagamentos de propina da empreiteira. A mensagem determinava que ele entregasse o dinheiro a uma pessoa que se apresentaria como "Angorá" _ codinome atribuído ao ministro de Minas e Energia, Moreira Franco (PMDB), nas planilhas da Odebrecht.
Tonico teria recebido o dinheiro em espécie de um emissário da construtora e usado seu escritório como entreposto do repasse.
Tonico prestava serviços à Odebrecht desde 2012, mas o dinheiro sempre era depositado pela empresa em uma offshore que ele mantinha no Panamá. Embora não tenha fechado acordo de delação premiada, o doleiro citou pelo menos 22 operações feitas para a Odebrecht, em valores que nunca haviam superado R$ 100 mil por vez. Ele descontava 3% de comissão para internalizar os recursos no Brasil. Os repasses sempre eram de caixa 2, sobretudo para financiamento de campanhas políticas, mas jamais ele havia recebido tamanha quantia e em espécie das mãos de um emissário da Odebrecht.
Ao longo da investigação, delatores da Odebrecht deram detalhes sobre este R$ 1 milhão: segundo os executivos, o dinheiro seria destinado a campanhas eleitorais do PMDB e teria como destinatário final o atual ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Operação Étimo
Os irmãos Tonico e Athos voltaram ao cenário da Lava-Jato na Operação Étimo, em 2017. A operação investigou um esquema de propina e lavagem de dinheiro envolvendo consultorias-fantasma e empreiteiras atuantes do Rio Grande do Sul, responsáveis, de 2000 a 2011, por grandes obras do Estado realizadas com recursos federais. Conforme a PF, os irmãos Cordeiro estavam envolvidos no desvio de recursos, por meio de contratos fictícios com as consultorias, e lavaram pelo menos R$ 30 milhões no Panamá e na Suíça.
Contrapontos
O que diz Alexandre Wunderlich, advogado dos irmãos Paulo Aramis, Athos Roberto e Carmen Regina Albernaz Cordeiro e de Suzana Marcon:
"Há visível equívoco na decisão judicial, os clientes são profissionais que atuam em ramos empresariais diversos e nunca participaram de operações de câmbio".
O que diz Antônio Tovo, advogado de Antônio Claudio Albernaz Cordeiro:
"A prisão preventiva de Antonio Albernaz Cordeiro mostra-se providência excessiva, tendo em vista que sempre esteve à disposição das autoridades policiais e judiciais para prestar os esclarecimentos necessários".