Perto de completar dois meses, o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes ainda não foi solucionado. Como não há imagens do momento em que eles foram alvejados dentro do carro no centro do Rio de Janeiro, na noite do dia 14 de março, os investigadores realizaram, na madrugada desta sexta-feira (11), a reconstituiçao do crime.
Durante mais de cinco horas, as imediações da esquina das ruas João Paulo I e Joaquim Palhares, no bairro Estácio, foram isoladas e sacos pretos cobriram o local do crime para preservar as testemunhas — ao menos três participaram da simulação — e evitar imagens externas.
Além do isolamentos de um quilômetro nas ruas, o espaço aéreo foi restringido para aeronaves e drones também foram proibidos.
No meio da madrugada, rajadas de tiros foram disparadas no intuito de que testemunhas tentassem reconhecer o som dos tiros para auxiliar a polícia na identificação da arma utilizada pelos assassinos. Como ainda não se sabe se foi uma pistola ou uma submetralhadora, ambas calibre 9 mm, o som que cada arma faz é diferente.
Segundo a Folha de S.Paulo, sacos de areia foram utilizados para aparar as balas e um boneco também foi levado para a cena do crime.
— Com as testemunhas presenciais, aqui no cenário do crime, através das percepções auditivas e pessoais, é possível reconstituir a dinâmica do crime. É preciso ter a movimentação exata dos veículos, saber como foram os disparos realizados, se foram rajadas ou intermitentes, tentar determinar qual foi o tipo de armamento — afirmou no local o titular da Delegacia de Homicídios do Rio, Giniton Lages.
Um Gol branco, diferente do Agile da vereadora, serviu de modelo para reproduzir o percurso feito pelo carro de Marielle, desde a chegada dela à Casa das Pretas, na Lapa, até o local onde foi morta, no dia 14 de março. Mais tarde, um Onix branco e um sedan prata também foram incluídos, provavelmente para tentar reconstituir a ação dos criminosos (que utilizaram um Cobalt e um Logan).
Além de policiais civis, militares e homens do Exército, também estavam presentes o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) e a mulher de Marielle, a arquiteta Mônica Tereza Benício.
Suspeitos
Uma testemunha apontou o vereador Marcello Siciliano e o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica, como mandantes do crime. Preso, Orlando é suspeito de chefiar uma milícia que atua na zona oeste do Rio, reduto eleitoral do vereador, também apontado como tendo ligação com grupos paramilitares. Os dois negam as acusações.
De acordo com a reportagem de O Globo, Marielle estaria atrapalhando os planos do grupo de expansão de territórios para outras localidades da região e estaria denunciando abusos policiais na favela.
Siciliano negou qualquer envolvimento no crime e disse não conhecer o ex-PM, preso desde outubro sob suspeita de homicídio e participação em milícias.
Em carta escrita de dentro do presídio, obtida pelo jornal O Dia, o ex-policial também negou participação no crime. Ele também descreditou o depoimento da testemunha, que seria um ex-colaborador de um outro grupo miliciano. Orlando Araújo chega a citar nominalmente o delator, apesar de sua identidade ter sido preservada na reportagem do diário carioca.
Além disso, nesta quarta-feira (9), o jornal O Globo divulgou segunda reportagem que aponta que a mesma testemunha relatou que dentro do carro de onde foram disparados os tiros contra Marielle estaria um PM do 16º Batalhão e um ex-PM que serviu no batalhão da favela da Maré.