Ciro Nogueira (PP-PI) teve seu gabinete no Senado e seu apartamento funcional vasculhados na manhã desta terça-feira (24) por agentes da Lava-Jato. Mas não é a primeira vez que o presidente nacional do PP é alvo da principal operação anticorrupção do país. O parlamentar já foi mencionado em diversas delações, inclusive nas mais famosas, as da Odebrecht e da JBS, e, inclusive, foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
A operação desta terça-feira foi deflagrada para apurar crime de obstrução de Justiça e organização criminosa. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a suspeita é de que Ciro Nogueira e Eduardo da Fonte (PP-PE), também alvo nesta manhã, com a intermediação do ex-deputado Márcio Junqueira (Pros-RR), tentavam comprar o silêncio de um ex-assessor que tem colaborado com as investigações.
Junqueira foi preso na operação desta manhã em Brasília. Já Nogueira, que foi alvo apenas de busca e apreensão, está em missão oficial na Bélgica.
O senador piauiense assumiu o comando do PP em 2013. Reeleito de forma unânime em abril de 2017 para mais dois anos de mandato, ficará no cargo pelo menos até 2019. No próximo pleito, o presidente nacional do PP deve tentar reeleição ao Senado.
Normalmente avesso aos holofotes, o progressista é um expert em operações de bastidores. No processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, foi considerado peça-chave para a definição do PP em votar contra a petista. Com a manobra, o parlamentar piauiense cresceu no Congresso com a ascenção de Temer e ajudou a angariar para o partido cargos relevantes no governo federal — o PP ficou com os ministérios da Saúde e da Agricultura e a Caixa Econômica Federal.
Cinco inquéritos no STF
Ciro Nogueira já responde ou respondeu a pelo menos sete inquéritos no Supremo — um deles foi arquivado e outro rejeitado pelos ministros. Dos cinco aos quais ele ainda responde, quatro são no âmbito Lava-Jato, incluindo o que envolve a operação desta terça-feira.
Em setembro do ano passado, o senador foi denunciado por organização criminosa no inquérito conhecido como "Quadrilhão do PP" por Rodrigo Janot e, em março deste ano, a atual procuradora-geral, Raquel Dodge, referendou as acusações. Segundo a investigação da Procuradoria, integrantes do partido indicavam para cargos no governo federal pessoas comprometidas em arrecadar propina para o grupo.
Em outra acusação, a PGR acredita que Nogueira recebeu propina no valor de R$ 2 milhões da UTC Engenharia, "com base em promessas de favorecer a empreiteira em obras públicas de responsabilidade do Ministério das Cidades e do Estado do Piauí".
Outro inquérito que envolve o presidente do PP é baseado nas delações de Cláudio Melo Filho e outros ex-diretores do grupo Odebrecht. De acordo com o delatores, Ciro recebeu R$ 1,6 milhão em propina da empreiteira nos anos de 2010 e 2014. Segundo planilhas do departamento de propinas da Odebrecht, Ciro Nogueira aparece como Helicóptero e Cerrado.
Delação da JBS
Com base na delação da JBS, o presidente do PP é investigado ainda por supostos repasses de R$ 20 milhões em 2014, com o objetivo de apoiar a chapa da ex-presidente Dilma Rousseff. O executivo Joesley Batista disse também que se encontrou com Ciro e pediu a ele que adiasse uma reunião partidária que provavelmente decidiria pelo desembarque do PP do Governo em 2016 – o que acabou acontecendo em abril, mas com atraso.
Para atender o pedido, o presidente do PP teria combinado receber de Joesley o valor de R$ 8 milhões, pago em março de 2017. A procuradora-geral Raquel Dodge pediu ao STF que abra investigação formal sobre o caso.
Relação com Temer
Ciro Nogueira também é um dos principais aliados do presidente Michel Temer no Congresso. No último dia 2, o senador esteve no Palácio do Planalto para acertar com Temer as novas indicações para a Esplanada dos Ministérios.
No redesenho, Temer queria manter o afilhado político de Ciro, Gilberto Occhi, na presidência da Caixa. Mas Ciro exigiu que ele fosse deslocado para o Ministério da Saúde, e Temer aceitou.
Herança política
Filiado ao antigo PFL, Ciro Nogueira sucedeu o pai, Ciro Nogueira Lima, como deputado federal, sendo eleito em 1994, aos 26 anos, e reeleito em 1998. Em 2000, foi candidato a prefeito de Teresina, mas perdeu o pleito. Reeleito deputado federal em 2002, deixou o partido a que pertencia e ingressou no PP a convite de seu sogro, o médico e político Lucídio Portela, conquistando um novo mandato de deputado federal em 2006.
Ciro candidatou-se à Presidência da Câmara em 2009, disputando a sucessão de Arlindo Chinaglia, contra Aldo Rebelo e Michel Temer, perdendo para o atual presidente da República. Já filiado ao PP, foi eleito senador da República em 2010.