Após ter seus recursos negados no Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4), José Dirceu se prepara para ser preso "a qualquer momento". Em entrevista para a jornalista Monica Bergamo, do jornal Folha de São Paulo, o ex-ministro, de 72 anos e condenado a 42 de prisão, disse que cogita a possibilidade de ser preso e não sair mais da cadeia, dizendo que "é uma hipótese". De acordo com ele, os hábitos serão os mesmos.
— Não muda nada. Preso ou aqui fora, vou fazer tudo o que eu fazia: ler, estudar e fazer política. Eu tenho que cumprir a pena. Eu não posso brigar com a cadeia. O preso que briga com a cadeia cai em depressão, começa a tomar remédio — disse.
José Dirceu também falou da relação dele com o ex-presidente Lula e diz acreditar que a prisão possa ser um bom lugar para se tornar uma pessoa melhor.
— Eu fiz da minha vida praticamente o Lula. E me mantive leal a ele. Não faltaram oportunidades, amigos e companheiros que me empurravam para romper com ele, em vários episódios. Em 2011, eu estava num barco alugado, pescando, e recebi um telefonema com a informação de que o Lula estava com câncer. Eu chorei. Me deu a sensação de que poderia ser o começo do fim da vida do Lula. Mas agora, como já passei três vezes pela prisão, é diferente. Você tem que lutar por todos os meios, legais e políticos, para ser solto. Mas sempre tenho a ideia de que, se souber levar a prisão, ela pode se transformar numa melhora para você mesmo. De estudo, de pesquisa, de reflexão.
O ex-ministro afirma que acredita na candidatura de Lula para as eleições de presidenciais de outubro. Segundo ele, é necessário que o PT se mantenha unido.
— O meu candidato é o Lula. Nós temos que lutar pela liberdade dele, mantê-lo como candidato e registrá-lo em agosto. Se não fizermos isso, será um "haraquiri" (ritual suicida japonês) político. Nós dividiremos o PT em quatro ou cinco facções. Nós temos que manter o partido unido. Daqui a 60 dias, o Lula vai tomar a decisão do que fazer, consultando a executiva, os deputados — disse.
Questionado sobre se teria imaginado em algum momento que ele e Lula seriam presos, José Dirceu disse que sempre esperou a tentativa de "golpe" ao governo petista.
— A tentativa de derrubar o nosso governo eu sempre imaginei. Toda vez que no Brasil há um crescimento muito grande das forças políticas sociais, populares, de esquerda, nacionalistas, progressistas, democráticas, isso acontece. De 1946 a 1964, o Brasil viveu sob expectativas de golpe contra governos trabalhistas, getulistas. O Juscelino (Kubitschek) só tomou posse porque o (marechal Henrique Teixeira) Lott deu o contragolpe. Só teve a posse do Jango porque Brizola se levantou em armas. Aliás, só derrotamos tentativas de golpe quando a gente tem armas. Estou falando sério.