O empresário Joesley Batista, acionista do grupo J&F, prestou depoimento à Polícia Federal (PF) e confirmou ter repassado R$ 500 mil em espécie ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do Partido Progressista. As informações foram prestadas ao delegado Cleyber Malta Lopes no último dia 6 de abril, em relato dentro da investigação aberta para apurar se o ex-procurador Marcelo Miller auxiliou os delatores da J&F ainda quando estava na Procuradoria-geral da República (PGR).
A informação sobre o novo depoimento de Joesley foi dada pela repórter Camila Bomfim, da TV Globo.
Na terça-feira (24), Ciro foi alvo da Operação Lava-Jato. Os agentes da Polícia Federal fizeram buscas no gabinete e na residência do senador, por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. As buscas se estenderam também ao deputado Dudu da Fonte (PP-PE). Ambos negam envolvimento em propinas.
O empresário revelou detalhes do repasse ao senador quando explicava ao delegado o conteúdo e o motivo de ter feito uma gravação chamada "Piauí Ricardo 3". O áudio dessa gravação é o mesmo que resultou no pedido do então procurador-geral da República Rodrigo Janot para que fosse aberta uma apuração sobre possíveis omissões no acordo dos executivos da J&F.
"O objetivo de tais gravações era registrar os diálogos durante as tratativas e entrega de R$ 500 mil para Ciro Nogueira", disse Joesley, em depoimento.
De acordo com o empresário, a entrega dos valores foi efetuada pelo então diretor de relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, na garagem da residência de Batista, na capital paulista, em 17 de março de 2017.
O empresário também declarou que a "gravação ocorreu por acidente" e que não se recorda exatamente em poder de quem estava o gravador.
"No momento da gravação 'Piauí Ricardo 3', o depoente e Ricardo Saud não sabiam que o equipamento estava ligado e, somente no dia seguinte, quando Demilton, colaborador e funcionário da J&F, percebeu que o arquivo era muito grande e avisou o depoente sobre tal gravação", afirmou Joesley.
Na versão do empresário, embora o conteúdo dos áudios tenha "por acidente conversas de cunho pessoal e sobre intimidade de terceiros", a possibilidade de exclusão do material foi descartada.
Inquérito
Devido às citações nas delações dos executivos da J&F, a PGR já pediu ao STF a instauração de novo inquérito contra o Nogueira por supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
As acusações giram em torno do suposto recebimento de vantagens indevidas pelo PP para apoiar a reeleição de Dilma Rousseff (PT), em 2014, e não agir contra a ex-presidente no processo de impeachment instaurado no Congresso Nacional.
O pedido de instauração de inquérito, feito em dezembro de 2017, é baseado na colaboração premiada feita pela JBS em maio, que, segundo a PGR, revelam o pagamento de vantagens ilícitas ao senador.
Contraponto
Em nota, o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, manifestou-se:"O senador nega peremptoriamente que tenha recebido este dinheiro. Sempre manteve relação com vários empresários, sempre de maneira republicana."