Reportagem de O Globo deste deste domingo diz que o ex-secretário de Segurança do Rio José Mariano Beltrame teria se beneficiado do esquema de corrupção descoberto no governo de Sérgio Cabral. Conforme o jornal, em sua delação, o economista Carlos Miranda, acusado de ser o principal operador de propinas de Cabral, teria afirmado que Beltrame recebeu R$ 30 mil mensais do esquema por sete anos.
Miranda, que foi preso em novembro de 2016, teve sua delação homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). A delação faz parte da Operação Calicute, braço da Lava-Jato no Rio, responsável pela prisão de Cabral também em novembro de 2016. O dinheiro, conforme a reportagem, seria entregue todos os meses para a mulher de Beltrame, a professora de Educação Física Rita Paes. Beltrame e Rita negam a acusação.
Em entrevista recente ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, Beltrame foi questionado se, sendo tão próximo de Cabral, nunca percebeu o esquema de corrupção no governo. E disse:
_ Quando entrei lá, dediquei 10 anos da minha vida com foco dirigido para aquilo que eu estava fazendo. Ficava 10, 15 dias sem falar com o governador. O patrimônio visível, ostensivo, que a gente poderia perceber que ele (Cabral) tinha em 2006, quando o conheci, e quando saiu, em 2010, era praticamente o mesmo. Agora, a liquidez, o que ele tinha com o dinheiro, onde ia, o que fazia, isso eu não tinha como saber, assim talvez não tenha como saber de muita gente. Meu contato com ele era um contato de despacho, um contato de gabinete, ia lá, fazia o que tinha que fazer e me retirava imediatamente. Não tinha informações materiais. Você desconfia de pessoa quando ela tem um comportamento... E ali na vida pública isso era imperceptível na minha maneira de ver. E quem rouba não passa recibo.
A delação do economista está sob análise do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio. Beltrame, que é gaúcho e delegado da Polícia Federal, atuou por 10 anos no Rio, onde comandou a guerra contra o crime organizado tendo como principal bandeira a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Na delação, segundo O Globo, Miranda teria dito que antes de ser entregue aos Beltrame, o dinheiro chegava ao empresário Paulo Fernando Magalhães Pinto, que era dono do apartamento alugado pelo delegado. Segundo O Globo, informação revelada pelo jornal Extra em 2016 indicou que o aluguel custava R$ 15 mil, o condomínio, R$ 5 mil, e o IPTU, R$ 7 mil. Pinto foi preso com Cabral em 2016 e ganhou prisão domiciliar depois de firmar delação premiada com a força-tarefa da Lava-Jato.
Paulo Fernando teria dito às autoridades que bancava despesas pessoais do ex-governador e depois era reembolsado em espécie. O valor chegaria a R$ 1 milhão. Agora, com as revelações de Miranda, ele deve ser chamado para novo depoimento na Calicute sobre os supostos pagamentos a Beltrame. Conforme O Globo, procurada, a defesa de Paulo Fernando não se manifestou.
Ainda conforme a reportagem, na delação de Miranda, o empresário Paulo Fernando Magalhães Pinto também aparece como intermediário no pagamento de bônus ao governador Luiz Fernando Pezão. Sobre as acusações de Miranda, o governador, por meio de nota enviada ao jornal, afirmou que "repudia com veemência essas mentiras". "Ele reafirma que jamais recebeu recursos ilícitos e já teve sua vida amplamente investigada pela Polícia Federal."