Uma intervenção da União com ações sociais e o combate à corrupção são medidas essenciais para se reduzir a violência no Rio de Janeiro. A avaliação é do ex-secretário de Segurança Pública do Estado, José Mariano Beltrame, que comandou a pasta por uma década e foi responsável pela implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Convidado a participar de um debate sobre violência, na próxima semana, em Porto Alegre, Beltrame concedeu entrevista ao programa Atualidade nesta sexta-feira (20). Na conversa, avaliou com “ apreensão e tristeza” a situação que o Rio se encontra.
— Acho que muitos cariocas comungam da minha maneira de ver. Durante 10 anos, ao menos, a população do Rio de Janeiro teve o que o ser humano teve de mais caro na vida: a esperança. A situação hoje é pior do que quando eu cheguei. O que é preciso ser dito, e não vejo as pessoas dizerem, é que o que deu errado é o Rio. Ele faliu! Obviamente por falta de recursos e sem recurso você não faz nada — disse.
O ex-secretário avalia que a corrupção atrapalha, mas ela é parte do sistema e defende que alternativas sejam encontradas.
— Será que não existia quando estávamos lá? Existia. A polícia é corrupta e tem outros problemas? Tem. Mas como se conseguiu resultados tão bons com toda essa corrupção? É um problema que existe, mas é um problema que precisamos enfrentar — disse.
Sobre a intervenção federal, Beltrame diz que a avaliação deve ser feita por meio de resultados, mas não acredita que este formato seja a melhor opção para a segurança do Rio de Janeiro.
— As pessoas falam em intervenção federal, mas ela não é uma intervenção federal e sim militar. O que o Rio merece é uma intervenção federal, o governo poderia entrar lá e fazer. Não que o Rio de Janeiro não precise de uma ação contundente e forte no sentido de melhorar a situação para as pessoas que querem minimamente seu direito de ir e vir. Acho que que o Rio precisa pensar em uma intervenção federal e, dentro dela, uma intervenção militar. O que mede isso são os índices de criminalidade. Os índices têm que dizer o quanto está se gastando e o quanto melhorou a sensação da segurança — aponta.
Questionado sobre o caso da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março, o ex-secretário classificou o caso como “crime horroroso”.
— Eu acho isso um crime horroroso, um crime contra a democracia. Isso mostra as fragilidades da nossa sociedade e do sistema. Uma ação planejada. O triste de tudo isso é a perda dessa vereadora e o fato de que as pessoas se sentem à vontade de praticar um crime horroroso destes — disse.
Beltrame foi secretário de Segurança Pública na gestão do ex-governador Sérgio Cabral, condenado há mais de 15 anos de prisão pela Operação Lava-Jato. Interrogado sobre sua relação com Cabral, o ex-secretário disse que limitava-se a “despacho de gabinete”.
— Quando eu entrei foi com foco no que estava fazendo. Ficava até 15 dias sem falar com o governador. O patrimônio dele a gente via que era o mesmo. Meu contato com ele era de despacho de gabinete. Eu ia lá, fazia o que tinha que ser feito e me retirava. Não tinha como saber, quem rouba não passa recibo — disse.