Após o clima belicoso enfrentado à tarde na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a caravana de Luiz Inácio Lula da Silva encontrou um ambiente mais favorável ao ex-presidente no bairro Nova Santa Marta, na área periférica da cidade. De cima de um carro de som, o petista discursou para centenas de apoiadores ao lado de outros líderes do partido na noite desta terça-feira (20).
Às voltas com a possibilidade de ser preso caso o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) negue o recurso apresentado pela sua defesa, Lula aproveitou a plateia para provocar as autoridades responsáveis pela sua condenação. Mais uma vez, afirmou ter sido "perseguido" por um crime que nunca cometeu.
– Se juntar todos os meus acusadores, os três (desembargadores do TRF4) que me julgaram, o (Sergio) Moro, o Ministério Público da Lava-Jato e a Polícia Federal, colocar numa prensa e espremer, o que sobrar não tem 10% da honestidade que eu tenho – emendou.
O ex-presidente voltou a reforçar a sua intenção de concorrer à Presidência em 2018. Sem se referir diretamente aos protestos que têm marcado a sua passagem pelo Rio Grande do Sul, Lula disse que seus opositores têm medo que ele "volte e acabe com o ódio”.
– Não vamos nos enganar com esses grã-fino que andam com bandeira do Brasil de dia e, de noite, vão para Miami gastar dinheiro – discursou.
Nas entrelinhas, também lançou críticas aos ruralistas que, na segunda-feira (19), organizaram uma manifestação em repúdio a sua visita em Bagé:
– Se eles tratassem os empregados deles que nem tratam os seus cavalos, estariam muito bem de vida. Estou cansado de ver cavalo comer maçã e criança crescer sem poder comer maçã.
Iniciada na segunda-feira, a caravana de Lula pelo interior gaúcho encarou protestos por onde passou. Em frente à Universidade Federal do Pampa (Unipampa), em Bagé, e no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), manifestantes chegaram a se agredir.
Diante do clima tensionado, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, pediu reforço nacional e estadual para a segurança de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, que acompanha a comitiva. Segundo a senadora, o partido entrou em contato com os ministros da Segurança Pública, Raul Jungmann, e da Justiça, Torquato Jardim, e com o governador do Estado, José Ivo Sartori.
– A caravana tem sido ameaçada e agredida por milícias armadas de extrema-direita. Não são manifestações políticas divergentes, mas de violência e enfrentamento que querem cercear o direito de ir e vir de dois ex-presidentes da República. Estamos oficiando as autoridades porque tememos pelo clima que está sendo criado – declarou Gleisi.
Mesmo com as animosidades, o coordenador da caravana, Márcio Macedo, garantiu que o roteiro está mantido. Nos bastidores, porém, petistas têm se mostrado assustados com a agressividade de parte dos manifestantes contrários, especialmente daqueles que apoiam o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ).
À tarde, o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) que realizava a escolta dos ônibus do ex-presidente apreendeu, na chegada a Santa Maria, duas caixas de morteiros em um carro particular. Segundo o comandante do 1º Regimento de Policiamento Montado da BM, tenente-coronel Erivelto Hernandes Rodrigues, o material pertencia a manifestantes anti-Lula. Os responsáveis foram apresentados à Polícia Civil.