— Serei aquele assessor com liberdade para fazer considerações positivas e negativas. Não levarei apenas notícias boas.
A frase foi dita pelo o advogado José Yunes, em abril de 2016, ao confirmar que, caso o processo de impeachment de Dilma Rousseff fosse aprovado pelo Senado, ele seria assessor especial de Michel Temer.
Yunes ficou apenas três meses no cargo. Pediu demissão em dezembro, quando veio à tona o conteúdo da delação do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. O executivo contou que dinheiro vivo foi entregue no escritório de Yunes, em São Paulo, para financiar campanhas peemedebistas.
O advogado foi citado na delação do doleiro Lucio Funaro e prestou depoimento à PF no inquérito que apura se decretos presidenciais favoreceram empresas do setor de portos em troca de propina. Nesta quinta-feira (29), foi preso por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso.
Conselheiro e amigo de Temer há 50 anos, Yunes já se definiu como "uma espécie de psicoterapeuta político" do presidente. O advogado também teria participado da elaboração da carta em que o então vice-presidente reclamava para a ainda presidente Dilma Rousseff de sua posição de "vice decorativo".
Yunes foi deputado estadual duas vezes e deputado federal constituinte junto com Temer. Elegeu-se pela primeira vez em 1978, quando disputou uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Natural de São Paulo, Yunes tem 80 anos. Casado e pai de cinco filhos, é autor do livro Uma lufada que abalou São Paulo, publicado pela editora Paz e Terra em 1982. A publicação denunciou casos de corrupção naquele Estado durante o governo de Paulo Maluf (1979-1982).
O trocadilho com o nome de Maluf ("uma lufada") levou o então governador e candidato à reeleição a pedir — e conseguir — na Justiça a suspensão das vendas da obra.
Formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em 1961, fundou o escritório de advocacia José Yunes e Associados. Também foi conselheiro e membro da Comissão de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção de São Paulo, de janeiro de 1998 a dezembro de 2000.