CORREÇÃO: Eduardo Mufarej é presidente do conselho de administração da Somos Educação, e não presidente do grupo. A informação incorreta permaneceu publicada entre as 23h03min de 2 de março e as 13h07min de 6 de março.
Com sede em São Paulo, o RenovaBR oferece um curso de formação para lideranças políticas. De 4 mil inscritos, cem foram selecionados para as aulas e outros 50 ainda devem ser incorporados à turma. Os alunos recebem pagamento de bolsas, acompanhamento de coach e programa disciplinar que vai do funcionamento do Legislativo a estratégias de marketing político.
Por pessoa, o investimento é de cerca de R$ 100 mil. Eduardo Mufarej, um dos fundadores do movimento, garante que ninguém tem obrigação de se candidatar. Porém, quem concorrer e se eleger, deve seguir compromisso assinado em contrato: o cumprimento de mandato completo e transparente.
Nos primeiros 12 dias de encontro, entre o final de janeiro e o início de fevereiro, a diversidade do grupo chamou a atenção dos próprios participantes.
Foram selecionados quatro gaúchos que, sozinhos, dimensionam a pluralidade: um professor da rede pública militante do movimento negro (Vagner Garcez), um liberal que concorreu à prefeitura de Porto Alegre em 2016 (Fábio Ostermann), um empresário líder de movimento de modernização da gestão pública (Cláudio Gastal) e um ex-secretário municipal de Pelotas ligado ao PSB (Tony Sechi). Em um respiro ao ódio que dividiu o país, conseguiram dialogar.
— Debateu-se muito, mas, atrito, nenhum. Nada a ponto de gerar desconforto. Nada a ver com clima de rede social — relata Garcez.
Para sobreviverem, os movimentos perceberam que precisam conversar. Caso contrário, a renovação ficará no discurso, defende o líder do Brasil 21, Pedro Henrique de Cristo. O grupo deve chegar ao Rio Grande do Sul em breve devido aos constantes pedidos via Facebook.
— Cada movimento tem qualidades e defeitos, mas, sozinho, não conta com a força necessária. Precisamos criar algo inédito: agenda comum de gente de esquerda e de direita com proposta de visão para o país. Aí, sim, podemos provocar um grande impacto nas eleições — acredita o ativista.
Para além do anseio de mudança, o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, avalia que o principal desafio estará no rompimento das normas que, desde a redemocratização, perpetuam as mesmas figuras no poder:
— No sistema político atual, as regras são impeditivas. Para disputar uma eleição, precisa ser filiado a um partido, e a maioria das estruturas é viciada. É justamente ao que os movimentos querem contrapor. A renovação se dará muito lentamente, mas é preciso tentar.
ENTREVISTA
Presidente do conselho de administração da Somos Educação e sócio da Tarpon Investimentos, Eduardo Mufarej lançou, em outubro de 2017, o RenovaBR. Com o apoio de nomes como o apresentador da TV Globo Luciano Huck e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o programa oferece cem bolsas de estudos para lideranças que pretendem concorrer ao Legislativo.
O que motivou um curso para políticos?
No Brasil, existem institutos para formação de lideranças de todos os tipos, mas nenhum para políticos e agentes públicos. É isso que o Renova propõe. Há uma efervescência da sociedade civil e um ecossistema de renovação política sendo constituído com muita gente disposta a disputar um cargo público e motivada pela vontade de transformar. Mas, ao mesmo tempo, as estruturas políticas tradicionais estão fechadas para a renovação. Se não viabilizarmos o caminho, teremos uma variedade de opções limitadíssima, que seguirá nas mãos das estruturas que já detêm o poder.
Esse sentimento de esgotamento da política tradicional está relacionado aos escândalos de corrupção no país?
O poder brasileiro está na situação do rei nu: o país serve à máquina pública ao invés de a máquina pública servir ao país. Por outro lado, a Lava-Jato escancarou que o Brasil é resiliente "pacas". Há anos, vivemos um processo de pilhagem contínua e seguimos de pé. Tem uma percepção da sociedade de que precisamos mudar. É nisso que devemos trabalhar.
Entre os bolsistas, há desde coronel da PM a representante de movimento LGBTQ+. Por que se afastar de um único alinhamento político?
Existe gente boa nos diferentes espectros ideológicos da política brasileira. Precisamos procurar convergência. Não queremos ninguém radical de nenhum dos lados, mas gente com potencial e vocação para servir. Os bolsistas têm histórias completamente diferentes. É impossível pensar que seguirão a mesma linha de pensamento, mas os colocamos para discutir, conversar e encontrar ponto convergente.
Há críticas de que a bolsa seria financiamento antecipado de campanha.
Não tem nada a ver com financiamento antecipado. Quanto custa eleger uma pessoa no Brasil? Infinitamente mais do que o investimento nessas pessoas. Estamos investindo na formação de alguém que sequer sabemos se será candidato. A quantia é irrisória perto de uma eleição.
O senhor teme que eles acabem engolidos pela política tradicional?
Claro, sem dúvidas. É uma luta contra um sistema que está instalado. Há o risco. Mas achamos que, uma vez eleitas, essas pessoas trabalharão em conjunto em vez de defender interesses das armas ou da igreja. Esperamos que atuem para definir um desenho de futuro ao país.
Apesar da pluralidade do curso, o senhor se considera de esquerda ou direita?
Sou um cara de centro. Respeito as liberdades individuais e acredito na responsabilidade econômica, porque o custo da irresponsabilidade econômica é pago pelos mais pobres. Para mim, essa discussão de esquerda e direita está ultrapassada. Temos de olhar para o que nos une porque o Brasil está precisando de convergência.