Com bom trânsito no Congresso, respeito dos militares e discurso forte no combate à criminalidade, Raul Jungmann foi anunciado nesta segunda-feira como titular do recém criado Ministério da Segurança Pública. À frente da pasta, o pernambucano de 65 anos aposta em ações de inteligência e integração entre as forças policiais para dar respostas imediatas na redução da violência. No longo prazo, estuda adotar medidas polêmicas, como a unificação das polícias civis e militares.
Jungmann, que era ministro da Defesa, foi uma escolha pragmática do presidente Michel Temer. Desde que anunciou a intenção de criar o ministério, Temer buscava um notável para assumir o cargo. Diante da recusa do ex-secretário de Segurança do Rio José Beltrame e do ex-ministro Nelson Jobim, percebeu que sua melhor opção já estava na Esplanada.
Como chefe das Forças Armadas, Jungmann tinha atuação elogiada pelo Planalto, principalmente na coordenação das tropas no Rio, Espírito Santo e Rio Grande do Norte. Foi a proeminência durante o início da intervenção federal no Rio, contudo, que o alçou ao posto. Ele gostou das atribuições e deixou claro que tinha interesse no ministério em gestação.
— É uma volta por cima — comenta um colega de partido.
Com dificuldades eleitorais desde 2010, quando concluiu o segundo mandato de deputado federal e fracassou na tentativa de se eleger senador, Jungmann diminuiu as ambições. Elegeu-se vereador em Recife em 2012 e ficou na suplência de deputado em 2014. Só voltou à ribalta política com a chegada de Temer ao Planalto.
No pós-impeachment, ninguém queria a Defesa, considerada sem brilho e com poucos cargos. Nem mesmo o seu partido, PPS, vislumbrava ali um pedaço interessante de poder. Indicado por Jobim, virou ministro, mas suas ações de maior destaque foram quando usou soldados para ações policiais, como varreduras em presídios e conflitos urbanos. A visibilidade devolveu-lhe a popularidade.
Nos últimos meses, pensava em disputar o Senado em 2018. O presidente do PPS, Roberto Freire, insistia para que mudasse o domicílio eleitoral para o Rio e concorresse com o discurso do combate à violência. Jungmann resistia, mas também não lhe agradava o flerte do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), seu aliado, com o PT. Ao migrar para a Segurança, adia os planos eleitorais.
— Foi bom. O governador vai coligar com o PT e não quero manchar a biografia — justificou Jungmann para colegas de Esplanada.
Após a posse, prevista para hoje, o ministro deve anunciar as primeiras medidas. Com poucos cargos, dotação orçamentária restrita e sem autonomia para interferir nas polícias estaduais, pretende focar em inteligência operacional. Para tanto, aposta na expertise das polícias Federal e Rodoviária Federal — que terá sob seu comando — e na interlocução construída com os comandantes das Forças Armadas e o Gabinete de Segurança Institucional. A ideia é reforçar o controle de fronteiras e estradas para reduzir o tráfico de drogas e armas, asfixiando o caixa das quadrilhas. Para o policiamento, conta com a Força Nacional.
— Ele vai usar muito a polícia técnica. Será um serviço de arrumar a casa, ocupando esse vácuo que há em todo o país. O objetivo é mostrar resultados e tentar seguir no ministério no próximo governo — aponta um amigo.
Jungmann chegou a Brasília em 1993, como secretário-executivo do Ministério do Orçamento na gestão de Yeda Crusius. Foi presidente do Ibama e do Incra e ministro do Desenvolvimento Agrário no governo FHC (PSDB), quando tentou quebrar o monopólio do MST ao permitir inscrições pelos Correios nos programas de assentamento.
Na nova pasta, o desafio é maior: dar às polícias o ciclo completo, com unificação das forças civil e militar e atribuição repressiva e de investigação criminal. Jungmann aderiu a essa proposta quando foi relator da PEC da Reforma das Polícias na Câmara, discutindo o tema por todo o país.
— Vai trabalhar por isso. Quebra o poder das corporações e diminui a corrupção — diz um confidente.