Comemore! Na semana que vem, o titular desta coluna estará de volta. Então, aproveito este último espaço para propor algo um pouco diferente de uma crônica, uma reflexão ou uma opinião pessoal. São dicas para escolher um bom candidato. Elas valem independentemente da sua inclinação ideológica (juro!) e vêm de quem já testemunhou o que acontece com os votos, em Brasília, quando eles se transformam em políticos eleitos. Na eleição complicada e imprevisível que se avizinha, talvez sejam úteis.
1. Preste atenção no partido
É natural: pessoas votam em pessoas. Por isso, tendem a escolher o candidato do qual gostam mais sem se importar muito com o partido. A legenda é especialmente importante nos votos ao Legislativo por dois motivos. Primeiro porque, uma vez eleito, o político raramente votará de forma independente da orientação partidária. O segundo motivo é que o voto naquele seu vizinho gente boa que tentou a sorte na política serve também para engordar o bolo do partido e, consequentemente, o número de eleitos via quociente partidário. Ao escolher um candidato ao Legislativo, pegue os dois primeiros números e pesquise quem mais concorre por aquela sigla, inclusive à reeleição. Essa turma toda será beneficiada pelo seu voto. Considere se você simpatiza com ela como um todo.
2. Maneire no voto por empatia
Nas eleições de 2014, o pessoal do La Urna, aqui do Grupo RBS, perguntou a um candidato se ele, afinal de contas, concorria a um cargo público ou a sogro. Não era apenas uma brincadeira, era um alerta para o que todo bom marqueteiro político sabe e explora nas campanhas: as pessoas votam nos candidatos com os quais simpatizam mais, sem se importar muito com seus projetos, sua visão de mundo, suas alianças partidárias e tudo mais. Ou seja, votam por empatia. Cuidado com essa transformação dos candidatos em personagens.
A pessoa parecer um bom camarada, ter uma trajetória de vida bonita ou ter boas tiradas em debates não faz dela, necessariamente, um bom administrador público. Não faça apenas uma eleição do cara mais legal, reserve esse voto ao Big Brother.
3. Filtre as fake news
A esta altura do campeonato, você deve estar cansado de ler sobre a disseminação de notícias falsas e sobre como isso pode contaminar eleições. Mas cabe um alerta a mais: tendemos a suspeitar menos das notícias com as quais “concordamos”. Desconfiamos de uma (suposta) notícia contrária ao candidato com o qual simpatizamos, mas não da favorável a ele, nem da notícia desabonadora do rival. Portanto, em nome do seu voto e dos votos dos seus amigos e seguidores, suspeite de informações mesmo que você “torça” para que sejam verdade.
4. Exija mais mulheres
Chovem textões sobre igualdade de gênero em redes sociais, mas raros deles apontam para a absurda falta de mulheres nos parlamentos do Brasil. Embora haja uma cota de 30% das candidaturas para mulheres, as eleitas são 9,9% da Câmara e 16,3% da Assembleia gaúcha. Isso acontece porque de nada adianta lançar candidatas sem um bom suporte financeiro e estrutural dos partidos.
E o mais perverso é que não basta, para mudar esse cenário, votar em mulheres para o Legislativo. Justamente por serem poucas candidatas com chance, não raro elas figuram entre os mais votados de cada eleição. E aí sabe o que acontece? Elas engordam o bolo partidário e elegem homens na carona. Portanto, se você valoriza a igualdade de gênero, exija dos partidos uma nominata forte e variada de mulheres, não apenas alguns nomes isolados e laranjas para preencher a cota sem chances de serem eleitas.
5. Vote pela sua convicção
Lembra daquele programa Tentação, do Silvio Santos? Depois da pergunta, três portas se abriam com opções de resposta, e os participantes escolhiam uma ou por saberem a correta, ou influenciadas pelos outros participantes. No Brasil, especialmente nos cargos do Executivo, vota-se muito como no programa: deixando-se levar por correntes migratórias de um candidato para o outro ao longo da campanha até o dia da eleição. Por isso é tão comum candidatos irem do céu ao precipício de uma semana para outra e a eleição ganhar ares de corrida maluca. O conselho final é este: em uma eleição que promete apresentar tantas alternativas, confie mais na sua convicção do que na convicção dos outros. Bom voto!