A Força Aérea Brasileira (FAB) divulgou, nesta segunda-feira (22), o relatório final da investigação sobre o acidente de avião que matou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki e outras quatro pessoas, há um ano, em Paraty, no litoral do Rio de Janeiro. O trabalho do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) concluiu que não havia visibilidade suficiente para o pouso, em razão das condições meteorológicas. Junto a outros fatores, a situação teria contribuído diretamente para a queda da aeronave.
— As condições meteorológicas tornavam impraticáveis os pousos e as decolagens em Paraty naquele momento — explicou o responsável pela investigação, coronel-aviador Marcelo Moreno.
O levantamento do Cenipa mostrou que o piloto, Osmar Rodrigues, tinha visibilidade de aproximadamente 1,5 mil metros no momento em que iniciou a descida, quando o recomendado para pousos na região é de 5 mil metros. Na hora da decolagem, em São Paulo, as informações disponíveis indicaram que havia condições visuais suficientes, mas a situação piorou durante o percurso – de aproximadamente 40 minutos.
Após a primeira tentativa de aproximação, o piloto recolheu o trem de pouso e informou que esperaria a chuva diminuir de intensidade. Porém, dois minutos depois, fez uma nova tentativa.
— É muito provável que a aeronave tenha feito uma curva de 360 graus e retornado para a segunda tentativa. Isso denota que ele (piloto) desistiu de aguardar melhores condições meteorológicas — explicou Moreno.
Na segunda vez em que tentou pousar, segundo a investigação, o piloto teria sofrido ilusões e desorientação espacial. A partir daí, não conseguiu evitar o choque com a água.
Além da baixa visibilidade, o piloto teve uma atitude não recomendada pelo Cenipa: desligou alertas sonoros e visuais de aproximação de obstáculos.
Os exames periciais e o histórico médico não identificaram problemas de saúde do piloto. Também não havia indícios de consumo de álcool ou substâncias toxicológicas. Já a análise dos registros de voz durante o voo indica ansiedade e estresse, o que pode ter influenciado nas atitudes de Rodrigues.
Com 30 anos de experiência, ele era considerado um especialista em operações na região de Paraty, fato que, conforme a investigação, pode ter contribuído na decisão de insistir na descida diante de condições meteorológicas desfavoráveis.
— A familiarização com a região, bem como o reconhecimento recebido do proprietário e dos demais pilotos, podem ter conferido autoconfiança mais elevada para voar naquela localidade — argumentou Moreno.
O coronel ressaltou que a cultura dos pilotos que operam em Paraty "favorecia a informalidade em detrimento de requisitos mínimos estabelecidos para a operação sob regras de voo visual". Inclusive, a investigação descobriu um procedimento não-oficial de aproximação por instrumentos utilizado na cidade fluminense, o que não é adequado em razão das características do aeródromo, que é cercado por montanhas. A medida fere sete limites de segurança. No entanto, esta modalidade não estava sendo utilizada no acidente com Teori.
Segundo dados do Cenipa, houve 13 acidentes aéreos em Paraty e Angra dos Reis nos últimos dez anos, seis deles diante de condições meteorológicas desfavoráveis. Contudo, Moreno garante que a operação é segura na região, desde que sejam respeitados os níveis meteorológicos.
A investigação da Aeronáutica ocorreu em paralelo ao trabalho da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público. Trata-se de um procedimento exclusivamente para a prevenção de novas ocorrências e melhoria da segurança de voo.
O trabalho da PF ainda não foi concluído. Há duas semanas, o responsável pelo inquérito apresentou à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármem Lúcia, o resultado parcial das investigações. O delegado Rubens Maleiner disse que está descartada a possibilidade de sabotagem. O motivo mais provável, segundo a PF, é de falha humana, com influência das condições meteorológicas.