A tensão que antecede o julgamento da apelação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), no dia 24 de janeiro, em Porto Alegre, chegou ao discurso da presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Uma declaração dada ao portal Poder 360 repercutiu negativamente na terça-feira (16) nas redes sociais. Ela afirmou que "para prender o Lula, vai ter que prender muita gente, mas, mais do que isso, vai ter que matar gente".
Após o fato, em sua conta no Twitter, a senadora paranaense contemporizou: "Usei uma força de expressão para dizer o quanto Lula é amado pelo povo brasileiro".
Em entrevista a GaúchaZH, Gleisi, 52 anos, reafirma a inocência do ex-presidente, comenta o caso em que é ré no STF e as possibilidades eleitorais do PT nas eleições de 2018.
Como o PT está se mobilizando para o julgamento?
O PT, junto com a Frente Brasil Popular e os movimentos sociais, entende que esse processo tem um caráter político muito forte. A sentença do juiz Sergio Moro não encontra base jurídica de sustentação. Então, a votação desse recurso é importante não só para o presidente Lula, mas para toda a democracia brasileira, e também para a comprovação de que o Judiciário brasileiro tem isonomia. Por isso, nossa movimentação de ir a Porto Alegre, de dizer isso ao TRF4, aos gaúchos, ao sul do país. Entendemos que é a oportunidade de o TRF4 mostrar que tem Justiça no Brasil e que ela é isonômica.
As forças de segurança do Estado temem atos violentos.
Da nossa parte, vai ser uma manifestação pacífica, assim como foram as outras duas em Curitiba (em setembro e maio do ano passado, quando Lula prestou depoimento a Moro na capital paranaense) e como sempre foram as nossas manifestações.
O PT insiste que há perseguição política contra o presidente Lula. O que embasa essa afirmação?
Falamos isso não só por um entendimento do PT. Por que disse que é a oportunidade do TRF4 mostrar que é a Justiça no Brasil e dizer que a Justiça é isenta? Porque a sentença de Moro está sendo desconstruída por juristas que têm muita respeitabilidade, tanto nacional como internacionalmente. Isso tudo nos leva a ter muito claro que a sentença proferida é de cunho político, e não jurídico.
O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro afirmou em depoimento que o triplex seria para Lula e que ele tinha conhecimento de corrupção.
A delação não foi aceita pelo Ministério Público, por isso virou depoimento. E por que ela não foi aceita? Porque ela não tinha provas. Era apenas o relato de uma pessoa, e de um acusado. Ele fez esse depoimento sem estar jurando verdade, portanto, livre de estar dizendo a verdade. E o fez em um momento em que estava negociando sua delação. Portanto, queria agradar Moro. Ele já tinha feito um depoimento e tinha negado. Então, qual depoimento vale? O que ele falou ou o que ele negou? Não pode uma sentença ser dada, condenatória, com base apenas em uma delação.
Não houve, por parte do presidente Lula, o recebimento de nenhuma vantagem.
Na sentença, indícios materiais que ligam Lula ao triplex são citados, como a proposta de adesão encontrada na casa do ex-presidente, declarações de funcionários da OAS e troca de mensagens entre diretores da empreiteira. A defesa contesta esses elementos?
Onde materializa-se o crime aí? Qual é o elemento que te dá, o fato que te dá, que houve corrupção passiva? O apartamento está com o presidente Lula? Ele usufruiu do apartamento? Ele morou no apartamento? A propriedade está com ele? A posse está com ele? Não. Portanto, ele não teve nenhum benefício. Se fizeram reforma, deixaram de fazer reforma, tinham a intenção de fazer, isso é outra coisa. Não tem nada a ver com o que teria de ser o fato do crime que está sendo alegado, que é de corrupção passiva. Não houve, por parte do presidente Lula, o recebimento de nenhuma vantagem. Ponto. Segundo: o próprio juiz Sergio Moro diz em sua sentença que nunca falou que o presidente Lula foi beneficiado com recursos da Petrobras.
O ex-deputado Pedro Corrêa, do PP, relata forte influência do ex-presidente para nomeação de Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobras, além de afirmar que Lula conhecia os casos de corrupção na estatal.
Quem está alegando tem de comprovar que existiu. Que eu saiba, foi indicação do PP, não foi um pedido de Lula para esse Paulo Roberto Costa estar lá. Então, eles que comprovem que foi insistência do presidente.
Em delação, Costa e o doleiro Alberto Youssef ligam repasses irregulares da estatal a sua campanha eleitoral de 2014. A senhora é ré no STF nesse processo. Como responde à acusação?
É um processo descabido. Sem provas, não tem nada que me ligue a esses rapazes, nunca falei com Paulo Roberto Costa, nem com Alberto Youssef, não os conheço. Mais: conheço Paulo Roberto por fotografia. Nunca estive na Petrobras conversando com eles, nunca dei um telefonema, nunca falei sobre eles. Por que eles iriam me beneficiar? Gostaria de entender. Por que iria receber R$ 1 milhão dessa gente?
Para a manutenção de Costa (na Diretoria de Abastecimento da Petrobras), segundo a denúncia.
Mas se não conheço, vou manter o quê? Eu não era nada em 2010. Não era nada. Fui candidata, não tinha cargo nenhum. Estou querendo entender onde está a minha influência.
A senhora é presidente do partido, que agora se une em defesa de Lula, mas também é ré no STF. Isso atrapalha no processo de defesa do ex-presidente?
Não. Não sou condenada.
A Petrobras reconheceu que houve casos de corrupção na estatal com R$ 6 bilhões de prejuízo. Alguém do PT tinha conhecimento, de alguma forma, de irregularidades?
Veja que engraçado, eles alegam que tiveram R$ 6 bilhões de prejuízo. E, agora, assinaram um acordo para pagar uma multa de R$ 10 bilhões (a Petrobras fechou acordo com a justiça americana para encerrar uma ação coletiva de investidores). Acho que Moro e Dallagnol (Deltan, procurador da República, integrante da força-tarefa da Lava-Jato) mereciam um pódio, né? Uma maravilha. Você faz uma cooperação dessas, gasta dinheiro público, bagunça o país, faz com que a empresa pare suas atividades, acaba com emprego de várias empresas e ainda faz a companhia que disse que foi objeto de corrupção e perdedora de R$ 6 bilhões pagar R$ 10 bilhões. Eles têm de se explicar. Eles causaram mais prejuízo à Petrobras e ao Brasil do que qualquer outra coisa.
Houve aumento de corrupção na Petrobras durante os governos petistas?
Não é essa a nossa leitura. A corrupção pode ter aparecido mais porque o PT criou mecanismos inclusive de combater e apurar a corrupção. Essa Lava-Jato só é possível pelos mecanismos criados pelo PT. Por exemplo, a lei das organizações criminosas, que dava direito a fazer as delações premiadas, foi uma iniciativa nossa e foi aprovada no nosso governo. A lei do colarinho branco. Portal da Transparência. Lei de acesso à informação. Fortalecimento do Ministério Público. Fortalecimento da Polícia Federal. O problema é que quem está se utilizando desses instrumentos está extrapolando. No início, acho que a Lava-Jato tinha tudo para colaborar muito com o Brasil. Depois, ela destrambelhou para ser apenas para um lado e só contra o PT.
O presidente Lula será candidato, será o nosso candidato. Fará campanha.
O PT ataca a Justiça por várias condenações de integrantes do partido, em especial contra o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-deputado José Genoíno. A senhora acredita que todos são inocentes?
O PT defende o que acha justo. E o que acompanha, conhece os processos, sabe que houve perseguição política em cima desses companheiros. O rigor com que foi julgada a ação 470 (mensalão) e o rigor com que está sendo julgado a Lava-Jato nos processos do PT é diferente do rigor que é julgado para os outros partidos. Vide o caso Temer, vice o caso Aécio Neves, vide o caso do Rodrigo (Rocha Loures) que estava com a mala de dinheiro e está solto. É muito diferente.
Se Lula não puder concorrer, qual será a opção do partido?
Lula concorrerá. Esse julgamento não tem nada a ver com a candidatura. É importante a gente deixar claro isso. A candidatura vai se dar e se resolver na Justiça Eleitoral. É o que determina a lei. Portanto, o PT, independente do resultado do julgamento, no dia 15 de agosto, com base na lei, vai registrar a candidatura do presidente Lula. A partir daí, pode-se discutir a candidatura do presidente Lula. Por isso, estamos dizendo: o presidente Lula será candidato, será o nosso candidato. Fará campanha.
Moro afirma que haveria motivos para a prisão do ex-presidente. Lula disse que mandaria prender juízes e jornalistas, caso eleito. A senhora admite exagero nas declarações?
O presidente estava se defendendo e mostrando sua indignação com um processo injusto e de perseguição.
Caso a sentença seja confirmada, a senhora acredita na prisão do ex-presidente?
Só existe uma decisão justa e isenta possível: anular a sentença e proclamar a inocência.