Envolver a comunidade em debates sobre diferentes temas de relevância para o Brasil é a premissa da Agenda 3.0, movimento criado em Porto Alegre há três meses. O grupo pretende, ao incentivar o diálogo e promover a inclusão social, étnica e cultural, diminuir as desigualdades, os danos ambientais, estimular a paz e o respeito mútuo, entre outras ações a curto, médio e longo prazos. Um dos objetivos é reunir o máximo de pessoas possível, no ano que vem, em evento voltado a propostas de soluções para o país. A data não está definida.
Um dos idealizadores do projeto é José Cesar Martins, sociólogo de 60 anos, investidor na área de tecnologia. Natural de Cachoeira do Sul, na Região Central, o empreendedor se divide entre o Rio Grande do Sul e a Califórnia, nos Estados Unidos.
— Moro em Porto Alegre e em San Francisco e percebo que lá há um espírito cívico pautando a vida das pessoas. Por outro lado, os brasileiros parecem nutrir um sentimento quase tóxico de desvalor das coisas do nosso país — argumenta Martins.
As duas sociedades, na visão do sociólogo, vivem momentos de incerteza, medo e sofrimento, refletindo um sentimento universal. São essas angustias que o fazem trabalhar para unir pessoas de diferentes credos, correntes políticas e setores da sociedade.
As formas de ingresso e os canais de comunicação com o grupo ainda estão sendo definidos. O que já está estabelecido é que os interessados devem disponibilizar, no mínimo, duas horas semanais para trabalhos voluntários. Também foram estipulados seis grupos temáticos nos quais os participantes serão distribuídos conforme suas afinidades. O primeiro deles, denominado "Há salvação fora da inovação?", será formado nesta sexta-feira, em reunião de trabalho na UFRGS, data em que serão estipuladas metas e definidos os líderes. Antes, na quinta-feira, às 18h30min, na Catedral Metropolitana de Porto Alegre, outro encontro será realizado para celebrar os três meses da Agenda 3.0.
Entre os primeiros 50 membros do movimento está o economista e ex-secretário de Governança de Porto Alegre Cézar Busatto.
— Temos convicção de que as pessoas que pensam de maneira diferente sobre os rumos do país são capazes de conversar. Há uma tendência de agrupamento de quem só pensa da mesma maneira, criando tribos que se enfrentam para ganharem umas das outras. Estamos propondo um grupo que olhe para o todo e não para seu pequeno mundo — detalhou Busatto.
A esperança do economista para o futuro é conciliar, por exemplo, preocupações do agronegócio e de entidades relacionadas à sustentabilidade ambiental:
— Não dá para os produtores rurais não discutirem com os ecologistas, por exemplo. Não podem pensar que são inimigos. É possível construir um agronegócio sustentável. Queremos que grupos com diferentes visões abram diálogo respeitoso.
Seis grupos temáticos
- O mundo tem jeito?
- Viver melhor a Vida. Com o que podemos sonhar?
- Ética e participação. Quais as saídas?
- Nosso país pode ter paz?
- Economia sustentável e “includente”
- Há salvação fora da inovação?
Mantras do grupo
- Caminhos: criticar é muito pouco. Olhamos para a frente para indicar caminhos e apresentar soluções
- Responsabilidade: os erros não são só dos "outros". Apontá-los implica reconhecê-los primeiro em nós mesmos
- Verdade: líderes negativos alteram a verdade. A verdade, ainda que desconfortável, é referência essencial ao progresso
- Sociedade: agimos com o olhar no interesse público, não para agradar grupos de interesse e corporações que se interpõem à sociedade
- Inovação & Futuro: se o passado contivesse as saídas, nosso presente seria menos sofrido. A inovação é caminho para um futuro melhor
- Civilidade: encorajamos o diálogo cordial em torno de ideias diferentes. Preferimos ideias a ideologias e, sempre, valores antes de afiliações
- Diversidade: apreciamos a troca de ideias entre diferentes tanto quanto nos afastamos do confronto entre "certezas"