Um tribunal protegido por tropas policiais, com o perímetro bloqueado à circulação de pessoas e cercado por manifestantes contra e a favor do réu. Assim se desenha o cenário para o julgamento da apelação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Porto Alegre, no dia 24 de janeiro. Para evitar confrontos entre os ativistas de ambos os lados, a cúpula da Brigada Militar (BM) no Estado já começou a discutir com a presidência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) o planejamento do aparato de segurança.
– Queremos garantir o direito de todos a manifestação, mas sobretudo a integridade das pessoas – comenta um oficial da BM.
A tensão cresceu no final de semana, depois que uma sargento da reserva da BM postou um vídeo nas redes sociais hostilizando a anunciada presença de apoiadores de Lula na Capital. Na publicação, Flávia Cristina Abreu ameaça os petistas com "pau, gás e bomba". A BM disse que não comenta a atitude da sargento porque ela não está mais na ativa e não cometeu falta funcional. Os serviços de inteligência da corporação, contudo, estão monitorando as redes sociais para tentar antecipar os passos dos grupos organizados.
Para o dia do julgamento, a tendência é de que policiais cerquem todo o perímetro do tribunal na véspera do julgamento, permitindo apenas a passagem de servidores e pessoas vinculadas à sessão, como advogados e membros do Judiciário.
Na manhã desta terça-feira (19), houve a primeira manifestação em apoio a Lula no local. Cerca de 300 pessoas participaram de uma aula pública, na qual professores e especialistas em Direito Penal criticaram a rapidez com que tramita a apelação do ex-presidente.
Reunidos na Frente Brasil Sem Medo, centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda planejam uma ampla programação para os dias que antecedem o julgamento. O MST estuda montar acampamento no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, em frente à Corte, para receber caravanas do Interior e de outros Estados.
– Ainda não há um calendário para a mobilização, mas estaremos presentes. Vamos dialogar com as forças de segurança. Não queremos tumulto, apenas expressar o sentimento de que temos o direito de votar no presidente Lula em 2018 – diz Cedenir Oliveira, da coordenação estadual do MST.
Lula foi condenado em julho a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. O PT tem conversado com o ex-presidente sobre as mobilizações, mas não há definição se ele virá a Porto Alegre para o julgamento. Caso a sentença de primeira instância seja mantida, o petista pode ficar inelegível.