A segunda denúncia contra Michel Temer foi congelada na Câmara nesta quarta-feira (25) e só será retomada após o fim do mandato do presidente, em janeiro de 2019. A vitória, no entanto, ficou aquém da esperada pelo Palácio do Planalto: alcançou o apoio de 251 deputados, 12 a menos do que em agosto, quando a primeira acusação foi suspensa.
Assim que a sessão foi concluída, a tropa de choque do governo se apressou em minimizar a diferença no placar. Ainda assim, a leitura feita pela oposição e até por parlamentares da base é de que o governo perdeu força e terá de ampliar o diálogo para aprovar projetos. Parlamentares deixaram o plenário afirmando que, vencidas as denúncias, a pauta do Congresso deverá seguir em direção às reformas tributária e da Previdência. O entendimento é de que a aprovação dessas matérias poderá ocorrer até o final do ano, a partir de articulações que terão o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como protagonista.
Ao fim da sessão, o deputado chamou para si a responsabilidade em pautar os assuntos no Legislativo, inclusive discutindo o teor das mudanças que serão analisadas:
– Claro que vamos ter de reduzir a reforma da Previdência e focar nos privilégios. Focar na idade mínima e na reforma do serviço público.
Para que as alterações no setor previdenciário saiam do papel, será preciso intensificar o contato com parlamentares da base aliada, em especial do centrão, maior bloco partidário da Câmara, que reúne ao menos 12 siglas. O governo enfrentou dificuldades com cerca de 30 parlamentares desse grupo, que é liderado por PP, PTB, PSD, PR e PRB, devido à barganha para a suspensão da denúncia.
Segundo o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), o apoio menor na votação ocorreu porque alguns colegas não quiseram se comprometer com o desgaste em suas bases a um ano da eleição. No entanto, afirmou que espera contar com esses votos em projetos de autoria do Executivo.
Sobre as diferenças entre os presidentes da República e da Câmara, disse que as discussões ficaram no passado:
— Eles estão unidos na reforma da Previdência e em outras que virão.
Perondi foi flagrado pelo fotógrafo Lula Marques com uma lista de dados e valores. Para a oposição, a imagem comprovaria que houve "compra de votos" e o deputado estaria conferindo se parlamentares que receberam recursos do Ministério da Agricultura estavam em plenário. Segundo Perondi, o documento é uma lista de demandas de cidades do Rio Grande do Sul feitas ao seu gabinete. No documento, constam os campos "município", "órgão", "objeto" e"valor", sob o título "propostas do Ministério da Agricultura". O cabeçalho traz "gabinete do deputado federal Darcísio Perondi".
Uma questão que ganha força é a permanência do PSDB no governo — os ministérios do partido são cobiçados por outros aliados. Perondi adiantou, após a votação, que os tucanos seguem ocupando as mesmas quatro pastas, apesar do racha na bancada do partido. Enquanto na votação da primeira denúncia os apoiadores de Temer tenham vencido por 22 a 21, dessa vez os tucanos que defendiam a continuidade das investigações foram maioria: 23 a 20. De acordo com o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, a situação não causa constrangimento na manutenção do partido na base:
— O PSDB tem responsabilidade histórica e vai continuar contribuindo em qualquer circunstância.
Apesar do clima otimista demonstrado pelo Planalto e seus aliados, a oposição avalia que a votação antecipa dificuldades futuras a Temer.
— O resultado mostra um governo fragilizado. Pensar em votar qualquer reforma impopular que exija 308 votos é impensável — destacou o deputado Alesssandro Molon (Rede-RJ).
A tensão dos aliados de Temer durou cerca de oito horas. Apenas às 17h02min, com o registro do quórum mínimo para o início da votação da segunda denúncia contra o presidente, os homens de confiança do Planalto respiraram aliviados. O objetivo foi atingido após um dia intenso de articulações e negociações, na tentativa de combater focos de incêndio gerados por deputados que ainda barganhavam benesses e que teve, ainda, a internação de Temer em um hospital de Brasília. A vitória do Planalto foi garantida às 20h34min, ao obter 157 votos a seu favor. Uma hora depois, foi encerrada a votação.
Ao longo da manhã e início da tarde, deputados da oposição contaram com "insatisfeitos" da base de Temer para impedir a abertura da votação. Frente à certeza de que não conseguiriam mudar votos, os emissários do presidente lutavam para alcançar o quórum mínimo.