O ministro da Justiça, Torquato Jardim, confirmou que o governo de Michel Temer decidiu mandar o italiano Cesare Battisti de volta para seu país — onde ativista está condenado à prisão perpétua por terrorismo e quatro assassinatos na década de 1970. A informação foi revelada em entrevista exclusiva de Torquato para a BBC Brasil. O ministro disse que Battisti "quebrou a confiança do Brasil".
Torquato ressalvou, porém, ter recomendado que se aguarde a decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre um pedido de habeas corpus preventivo da defesa do italiano — que vive no Brasil beneficiado por decreto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No último dia de seu mandato, em 31 de dezembro de 2010, o petista negou pedido de Roma para extraditar Battisti.
A estratégia é impedir que um eventual decreto de extradição de Temer seja derrubado por decisão do Supremo.
Na semana passada, o italiano foi preso na fronteira do Mato Grosso do Sul com a Bolívia por suspeita de evasão de divisas e lavagem de dinheiro — em uma pochete, ele tinha US$ 6 mil e mais 1,3 mil euros em dinheiro vivo. Alegou à Polícia Federal que pretendia pescar e comprar roupas de couro no país vizinho. Ele negou que pretendesse fugir do país com receio de uma eventual extradição.
À BBC Brasil, Torquato argumentou que a decisão sobre a extradição é "um ato de soberania", que pode ser adotado "a qualquer tempo".
— A Itália nunca abriu mão disso (da extradição de Battisti). Os italianos não perdoam o Brasil por não mandar o Battisti de volta. Para eles, é uma questão de sangue. É um entrave nas relações Brasil-Itália e na relação com a União Europeia como um todo.
Na entrevista, o ministro se referiu à prisão de Battisti na fronteira com a Bolívia.
— Ele quebrou a relação de confiança para permanecer no Brasil. Tentou sair do Brasil sem motivo aparente. Ele disse que ia comprar material de pesca, mas quebrou a confiança porque praticou ato ilegal e deixava o Brasil, com dinheiro acima do limite, sem motivo aparente — declarou Torquato.
Battisti já está em liberdade. Depois de ser autuado em flagrante pela Polícia Federal de Corumbá (MS) e ter contra si decreto de prisão preventiva expedido pela Justiça Federal do Mato Grosso do Sul, o italiano foi beneficiado por um habeas corpus do desembargador José Marcos Lunardelli, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), que acolheu pedido do advogado de defesa Igor Tamasauskas.