A crise surgida entre PMDB e DEM, no momento do envio da segunda denúncia contra Michel Temer à Câmara, acendeu o sinal de alerta no Palácio do Planalto. O próprio presidente, que voltou de Nova York nesta quinta-feira, irá atuar como mediador, jogando panos quentes no atrito criado após a disputa entre as duas siglas por deputados do PSB, classificada como “facada nas costas” pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Um encontro entre os dois será marcado nos próximos dias.
A tentativa do Planalto é de manter a aparente tranquilidade, apesar da recente derrota no Supremo Tribunal Federal (STF) e do descontentamento de partidos menores com o espaço dado ao PSDB no primeiro escalão. Temer quer reforçar a ideia de mal-entendido. A intenção é contestar a declaração de Maia de que há tentativa de enfraquecer a bancada do DEM, além de manter o deputado ao lado do Executivo. A hipótese de que a proximidade das eleições de 2018 motivaria o presidente da Câmara a descolar sua imagem do Planalto também preocupa.
Integrante da tropa de choque de Temer, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) acredita que o desconforto causado pelas declarações de Maia será “facilmente revertido”:
– É uma coisa que surpreende. Mas é uma coisa que se resolve em conversa entre os dois.
O parlamentar atribui a desavença – ampliada após a filiação do senador Fernando Bezerra (PSB-PE) ao PMDB, apesar de ter sido cortejado pelo DEM – a disputas políticas locais. Marun avalia que a situação não trará impactos ao enfrentamento da denúncia na Câmara.
O vice-líder do governo na Casa, Beto Mansur (PRB-SP), também ameniza a desavença. Segundo ele, Temer não agiu na disputa por parlamentares.
– O presidente não está preocupado em trazer parlamentares ao PMDB. Ele está preocupado com o país – rebate Mansur.
Responsável por elaborar um mapa dos prováveis votos dentro da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde a denúncia começa a tramitar, Mansur passará o final de semana analisando a postura dos deputados que integram o colegiado. O levantamento embasará a estratégia do Planalto para vencer as acusações.
Oposição diz que briga na base pode enfraquecer o governo
Integrante da CCJ e um dos principais críticos de Temer, Alessandro Molon (Rede-RJ) apela aos colegas para que não atrapalhem o trabalho do STF, autorizando a análise da investigação pela Corte. O parlamentar avalia que as disputas na base aliada poderão enfraquecer o governo.
– O conflito mostra que a base de sustentação está desmoronando, e uma base fragmentada vai ter mais dificuldades para barrar o andamento da segunda denúncia – sustenta Molon.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS), outra titular da CCJ, afirma que a estratégia da oposição será estimular a pressão da população sobre os parlamentares, além de mostrar as desavenças internas que, segundo ela, são causadas pela disputa por cargos e emendas.
– É possível que no contexto da segunda denúncia cresça a contradição entre setores de dentro do governo – projeta Maria do Rosário.
O Planalto ainda mantém vigilância em outros focos de incêndio na base, como a pressão pela diminuição do espaço do PSDB no primeiro escalão. Partidos menores, como PR, PSD e Solidariedade cobram cargos em troca do apoio que deram para barrar a primeira denúncia, em agosto.
* Com agências de notícias