Às vésperas de a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer chegar à Câmara, o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez duras críticas ao peemedebista, disse que ele lhe faltou com a palavra e ameaçou retaliação do DEM em votações que interessam ao governo. Segundo Maia, o governo e o PMDB têm tratado o seu partido como "adversário" e isso poderá refletir na relação da bancada com o Planalto no Congresso.
— Nós queremos saber qual é a verdadeira posição do governo e do PMDB em relação aos Democratas. Tem parecido um tratamento de adversários, eu espero que não vire uma relação entre inimigos — disse.
Maia, no entanto, afirmou que essa indisposição não deve interferir na votação da segunda denúncia.
— Não vamos misturar uma coisa com a outra. Cada deputado vai votar com a sua consciência — disse.
Segundo o presidente da Câmara, o mal-estar com o Palácio do Planalto se deve ao fato de o PMDB ter filiado, no início de setembro, o senador Fernando Bezerra (PE), que era do PSB. O DEM vinha negociando há meses a migração do parlamentar e de outros deputados do PSB para a legenda. O presidente da Câmara lembrou de um episódio, durante a tramitação da primeira denúncia na Casa, quando Temer teve um encontro com nomes do PSB. Na época, segundo Maia, Temer foi à sua casa negar que o PMDB estivesse fazendo uma ofensiva no PSB, mas a filiação do senador teria mostrado que isso não era verdade.
— Quando a gente faz um acordo, tem que cumprir a palavra. A coisa mais importante da política é a palavra. Eu já avisei o presidente, isso causou muito desconforto dentro da bancada — disse.
O deputado destacou ainda que o fato de os ministros Moreira Franco (Secretaria da Presidência) e Eliseu Padilha (Casa Civil) terem participado do ato de filiação de Fernando Bezerra mostra que há uma "digital" do governo na iniciativa.
— Se é assim que eles querem tratar um aliado, eu não sei o que é um adversário. Quero que isso fique registrado, para que quando a bancada do Democratas tiver uma posição divergente do governo, o governo entenda. Há uma revolta muito grande dentro da bancada, não virou rebelião ainda, mas há muita revolta — disse.
O presidente da Câmara disse ainda que é preciso esclarecer qual é a relação entre PMDB e DEM, porque, segundo ele, o seu partido está sendo "muito correto" com o governo, inclusive bancando a agenda de reformas do Planalto, que seria "uma agenda de desgaste".
Desde segunda-feira (18), Maia ocupa interinamente a Presidência da República no lugar de Temer, que viajou aos Estados Unidos. As declarações do deputado, no entanto, foram dadas na Câmara. Ele veio ao plenário nesta quarta-feira (20) para acompanhar parte da votação da reforma política.
Antes de ir à Câmara e dar declarações contra o governo Temer e o PMDB, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já havia demonstrado irritação com as movimentações governistas que, segundo ele, estariam impedindo o crescimento do DEM.
— A gente não pode ficar levando facada nas costas do PMDB, principalmente de ministros do Palácio e do presidente do PMDB", advertiu, em referência aos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, e ao presidente da sigla, senador Romero Jucá (RR).
O presidente da Câmara deu as declarações contra o governo espontaneamente, sem ser provocado pelos jornalistas. Maia já havia encerrado a entrevista sobre a tramitação da denúncia no Congresso quando se voltou para a imprensa para fazer a ameaça: "Eu alertei o presidente. Que o PMDB pare de tentar reduzir o crescimento do Democratas na Câmara dos Deputados".
Para o presidente da Câmara, "não ajuda o próprio Palácio participar desta operação (de cooptação dos políticos do PSB)".
— Isso é muito grave.
*Estadão Conteúdo