Para ilustrar a hierarquia e as relações dentro do chamado "PMDB da Câmara dos Deputados" — investigado por supostas irregularidades em órgão públicos —, a Polícia Federal (PF) criou dois organogramas nos moldes do Power Point apresentado por Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato no Ministério Público Federal (MPF), contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 14 de setembro do ano passado. No relatório entregue o Supremo Tribunal Federal (STF), a PF divide o grupo em quatro núcleos cujos integrantes possuem funções específicas. Para os investigadores, esses núcleos atuavam com divisão de tarefas e de forma compartimentada, mas de maneira harmônica e com interdependência. São elencados o núcleo político/gerencial, o administrativo, o empresarial/econômico e o operacional/financeiro. No centro da rede criminosa, a PF coloca o presidente Michel Temer e o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como comandantes do núcleo político.
O parecer da PF indica que Temer teria recebido R$ 31,5 milhões em vantagens indevidas por participar da organização criminosa. Segundo a polícia, Temer influenciava as tomadas de decisão do grupo para fazer indicações políticas a cargos estratégicos do governo. Ele também, de acordo com o relatório, articulava com empresários beneficiados nos esquemas o recebimento de valores de doações eleitorais. Temer seria uma figura semelhante a Cunha na hierarquia do grupo criminoso. Para a PF, enquanto Cunha desenvolvia a parte obscura das negociações, Temer oficializava os atos praticados pelo deputado cassado.
Leia mais :
Janot pede até oito anos de condenação para "quadrilhão" do PMDB no Senado Janot pede prisão do empresário e delator Joesley Batista
Janot pede multa de R$ 200 milhões a peemedebistas denunciados
De acordo com a PF, o núcleo político/gerencial determinava a nomeação de nomes do núcleo administrativo para posições de chefia ou relevância em cargos públicos. Esse indicados tinham de aceitar as relações criminosas com o núcleo econômico/empresarial para viabilizar o desvio de recursos públicos. Após os desvios, diz a PF, os integrantes do núcleo operacional/financeiro atuavam para efetuar os repasses de vantagens indevidas aos nomes do núcleo político/gerencial.
Geddel Vieira Lima, Henrique Alves (preso em junho) e Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Casa Civil estão entre os políticos que responderiam a Temer dentro do esquema que garantiam vantagens para empresas em troca de vantagem indevida.
Sobre os núcleos, os investigadores apontam que o político/gerencial era formado por parlamentares e pessoas ligadas a eles. O administrativo era composto por pessoas colocadas em cargos do corpo técnico de órgãos públicos. Empresários e executivos de grandes empresas nacionais formavam o núcleo empresarial/econômico e operadores que atuavam como "instituições financeiras clandestinas" compunham o núcleo operacional/financeiro.
Para a PF, a organização criminosa do PMDB da Câmara identificada na investigação atuou não só na Petrobras, mas também em outros órgãos públicos como a Caixa Econômica Federal, Câmara dos Deputados e Ministério da Agricultura. No entendimento dos delegados, embora as tarefas fossem divididas de forma estruturada, o núcleo político/gerencial tinha ascendência sobre os demais de forma a orientar os que faziam a captação de recursos dos empresários e fazer os valores circularem para financiar o grupo.
Procurada, a assessoria do PMDB não respondeu até a publicação da reportagem.