A partir das 9h desta quarta-feira (2), a Câmara se reúne pela primeira vez na história para votar um pedido de ação penal por corrupção contra um presidente da República. Acusado de receber propina do grupo JBS, Michel Temer enfrenta um julgamento político, no qual os 513 deputados irão decidir se autorizam o Supremo Tribunal Federal a processá-lo criminalmente.
Na tentativa de frear a ação da Procuradoria-Geral da República, Temer ampliou a ofensiva sobre os parlamentares. Somente nesta terça-feira, véspera da votação, recebeu 18 deputados em seu gabinete. Ao meio-dia, almoçou com a bancada ruralista. À noite, reuniu os principais articuladores em um jantar na casa do vice-presidente da Casa, Fábio Ramalho (PMDB-MG). Nesses encontros, os ministros políticos deixam claro que Temer não irá tolerar infidelidades.
– Quem for da base e votar contra o presidente será retaliado – alerta um aliado de Temer.
Ciente de que a oposição não possui os 342 votos necessários para dar andamento à denúncia, o presidente não se contenta com um simples arquivamento. Deseja fazer da provável vitória uma exibição de força política. Para tanto, abriu o cofre do governo, liberando emendas, cargos e verbas para obras.
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– O presidente está cumprindo sua missão de presidente, ouve, conversa, ouve os pleitos e depois faz com que sejam encaminhados – justificou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
O cerco aos dissidentes é intenso. Para reforçar a tropa de choque, Temer decidiu exonerar os 11 ministros que têm mandato de deputado. De volta à Câmara, eles terão a missão de convencer indecisos, enquadrar os rebeldes e até mesmo seduzir os adversários.
Nessa tentativa de convencimento, emissários do governo têm procurado deputados da oposição considerados mais flexíveis, oferecendo facilidades legislativas, como uma tramitação mais rápida dos projetos de seu interesse nas comissões. Para alguns, nem sequer pedem em troca o voto a favor do Planalto. Basta registrar presença e votar, mesmo que pela abertura da denúncia.
Oposição tenta levar votação à noite de olho em audiência da TV
Esse movimento foi deflagrado a partir desta terça-feira porque ao governo não basta o quórum de 342 deputados. É preciso também que pelo menos 342 parlamentares votem, sob pena de a sessão ser encerrada sem que o resultado seja proferido (entenda o rito da votação). Nesse caso, uma nova sessão seria marcada para a próxima semana, estendendo a angústia do Planalto.
Conta a favor do governo a ausência de manifestações populares. Se na véspera da votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff foi preciso mobilizar um gigantesco aparato policial, inclusive com a instalação de um muro de ferro com 1 quilômetro de extensão no gramado da Esplanada dos Ministérios, desta vez não há qualquer esquema especial de segurança. A única medida tomada foi a restrição de acesso à Câmara: hoje só entram servidores, jornalistas e parlamentares.
Pela manhã, contudo, um grupo de manifestantes vinculados à organização não governamental Avaaz aguardava o desembarque dos deputados no aeroporto de Brasília. Segurando placas com a frase "Compro Voto – Troco por emenda", os ativistas usavam uma máscara com a face de Temer e jogavam notas falsas de R$ 100 sobre os parlamentares.
Não foi registrado nenhum incidente e os deputados seguiram para a Câmara, onde o ambiente em nada parecia o de véspera da votação de uma denúncia contra o presidente. No início da tarde, o parecer da Comissão de Constituição e Justiça sobre a denúncia foi lido diante de um plenário vazio.
No salão verde, termômetro da efervescência política da Casa, poucos deputados circulavam. Enquanto os governistas seguiam em romaria ao Planalto confabular com o presidente, a oposição fazia reuniões sucessivas sem chegar a um consenso sobre a estratégia para a votação.
A ideia vigente é deixar para o governo a tarefa de reunir quórum e registrar presença apenas no meio da tarde. Como a derrota é inevitável, o bloco de partidos contra Temer deseja ao menos começar a votação no início da noite, para que a transmissão ao vivo pela TV alcance a maior audiência possível. O objetivo é apostar em defecções na base governista, diante de um suposto constrangimento dos aliados de Temer em defender um governo com forte rejeição popular.
*Zero Hora