A timidez dos deputados da base governista no momento de proferir os votos que barraram a denúncia contra Michel Temer cedeu lugar a uma cobrança eloquente. Não satisfeitos com as cifras bilionárias que entraram na barganha por meio de emendas e anistias tributárias, os partidos que ajudaram a livrar o presidente de uma possível ação penal por corrupção passiva exigem agora uma reforma ministerial.
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A pressão por mais espaço no governo surge principalmente no centrão, bloco hegemônico na Câmara e considerado fundamental para garantir qualquer vitória em plenário. Com 140 parlamentares de pelo menos quatro partidos, o grupo já avisou ao Planalto que deseja o Ministério das Cidades, hoje ocupado pelo PSDB.
Para os integrantes do centrão, o espaço dos tucanos está superestimado no governo, principalmente para uma bancada que se dividiu na votação da denúncia, negando metade dos votos a Temer – dos 47 deputados da sigla, 21 votaram pela continuidade do processo.
O PSDB controla ainda outras três pastas – Relações Exteriores, Secretaria de Governo e Direitos Humanos. Mas nenhuma delas atiça a voracidade da base como o Ministério das Cidades, responsável por obras de infraestrutura nos municípios e cujo orçamento alcança R$ 16,2 bilhões. Tamanha capilaridade seduz PR e PTB, dois dos integrantes do centrão mais mobilizados por cargos, mas também o próprio PMDB, partido de Temer e insatisfeito com o jogo duplo dos tucanos.
– Esse povo é insaciável. O mais bobo voa de costas e com radar – comenta um deputado da base que votou contra o governo.
Outro ministério que está na mira do centrão é o da Integração Nacional. Cobiçada em especial pelas bancadas do Norte e Nordeste, em razão dos investimentos no combate à seca nessas regiões, a pasta tem R$ 7,5 bilhões em caixa e está nas mãos de Hélder Barbalho (PMDB-PA). Mas o governo receia em mexer no posto por conta da vinculação de Barbalho com o PT, mesma situação de outro ministro do partido – Jorge Picciani, do Esporte. Uma eventual troca poderia reaproximar da oposição os atuais titulares.
Planalto orienta siglas a acerto de contas interno
No Planalto, a pressão por mais espaços na Esplanada já era esperada. Temer não quer inflar briga autofágica na base, tampouco ampliar a crise com o PSDB. Como o centrão cobra punição aos infiéis, o governo tem estimulado os próprios partidos a fazer um acerto de contas interno.Foi o que aconteceu na sexta-feira no PR, que demitiu o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Santa Catarina. O cargo era ocupado pelo engenheiro Vissilar Pretto, indicado pelo deputado Jorginho Mello (PR-SC). Como o padrinho votou a favor da denúncia, a indicação agora caberá a outro parlamentar da base no Estado.
– Cumprimento o presidente do PR pela decisão. Se o Jorginho votar conosco na reforma da Previdência, pode voltar a ter o cargo. Mas o Michel vai ser cauteloso. Os 263 que votaram contra a denúncia, é só bater na porta do gabinete presidencial. Os outros terão que telefonar antes – diz Darcísio Perondi (PMDB-RS).
Um estudo mais completo da redistribuição de cargos só será feito a partir de segunda-feira, quando o vice-líder do governo, Beto Mansur (PRB-SP), irá entregar a Temer um mapa do comportamento da base na última quarta-feira. Mansur tem pedido ao Planalto que evite retaliações, com receio de não conseguir reunir apoio suficiente para aprovar as reformas da Previdência e tributária. E alerta:
– Já tem gente demais brigando dentro do próprio partido. Não tem de brigar com ninguém.
ALVOS DA COBIÇA
– Ministério das Cidades
Com orçamento de R$ 16,2 bilhões, é responsável por obras de infraestrutura nos municípios, com recursos para saneamento, pavimentação e mobilidade urbana. Também conduz o programa habitacional Minha Casa Minha Vida.
– Ministério da Integração Nacional
Com orçamento de R$ 7,5 bilhões, tem investimentos concentrados no Norte e Nordeste, em especial na construção de cisternas. Também gerencia recursos para atendimento a vítimas de desastres naturais e a transposição do Rio São Francisco.
MINISTÉRIOS POR PARTIDO
PMDB – 7
PSDB – 4
PP – 2
PSD – 2
PPS – 1
DEM – 1
PRB – 1
PV – 1
PSB – 1
PTB – 1
PR – 1
PASTA/MINISTRO
PMDB
Casa Civil – Eliseu Padilha
Secretaria-Geral da Presidência – Moreira Franco
Desenvolvimento Social – Osmar Terra
Esporte – Jorge Picciani
Turismo – Marx Beltrão
Integração Nacional – Helder Barbalho
Transparência e Controladoria-Geral da União – Wagner Rosário (interino)
PSDB
Cidades – Bruno Araújo
Secretaria de Governo – Antônio Imbassahy
Relações Exteriores – Aloysio Nunes
Direitos Humanos – Luislinda Valois
PP
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Blairo Maggi
Saúde – Ricardo Barros
PSD
Fazenda – Henrique Meirelles
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – Gilberto Kassab
DEM
Educação – Mendonça Filho
PSB
Minas e Energia – Fernando Coelho Filho
PTB
Trabalho – Ronaldo Nogueira
PR
Transportes, Portos e Aviação Civil – Maurício Quintella
PRB
Indústria, Comércio Exterior e Serviços – Marcos Pereira
PPS
Defesa – Raul Jungmann
PV
Meio Ambiente – Sarney Filho
Técnicos
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão – Dyogo Oliveira
Justiça e Segurança Pública – Torquato Jardim
Cultura – Sérgio Sá Leitão
Gabinete de Segurança Institucional – Sérgio Etchegoyen
Advocacia-Geral da União – Grace Maria Mendonça
Banco Central – Ilan Goldfajn
*Zero Hora