Em despacho encaminhado com o objetivo de reforçar a necessidade de manutenção da prisão do ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já adiantou uma constatação que deverá estar na denúncia que deve apresentar até esta terça-feira (27) contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB), e Loures – ex-assessor especial da Presidência que está preso dentro da mesma investigação. Janot diz que, sem dúvida, Temer praticou o crime de corrupção.
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"Rodrigo Loures representa os interesses de Michel em todas as ocasiões em que esteve com representantes do Grupo J&F. Através dele, Temer operacionaliza o recebimento de vantagens indevidas em troca de favores com a coisa pública. Note-se que, em vários momentos dos diálogos travados com Rodrigo Loures, este deixa claro sua relação com Michel Temer, a quem submete as demandas que lhes são feitas por Joesley Batista e Ricardo Saud, não havendo ressaibo de dúvida da autoria de Temer no crime de corrupção", afirmou Janot.
Outra conclusão de Janot é que é clara "a atuação conjunta dos investigados Rodrigo Rocha Loures e Michel Temer". "Conformese depreende do contexto fático-probatório, os diversos episódios narrados alhures apontam para o desdobramento criminoso que se iniciou no encontro entre Michel Temer e Joesley Batista no Palácio do Jaburu no dia 7 de março de 2017 e culminou na entrega de R$ 500 mil efetuada por Ricardo Saud a Rodrigo Loures em 28 de abril de 2017", afirmou Janot.
O procurador ressalta que o encontro no Jaburu foi agendado por Loures e que o fato de ser no fim da noite era para "não deixar vestígios dos atos criminosos lá praticados". "As circunstânciasdeste encontro, em horário noturno e sem qualquer registro na agenda oficial do presidente da República, revelam o propósito de não deixar vestígios dos atos criminosos lá praticados."
Janot destrincha vários pontos de ligação entre Temer e Loures de acordo com documentos e conversas obtidas nas investigações. Lembra que Loures foi chefe de gabinete de Temer na vice-presidência da República em 2011; que Temer gravou, em 2014, um vídeo para campanha de Loures à Câmara dos Deputados; que, em janeiro de 2015, Loures tornou-se chefe da assessoria parlamentar de Temer na vice-presidência, e foi nomeado como chefe de gabinete da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República em abril do mesmo ano. "Todos esses fatos ilustram proximidade e relação de confiança entre os dois denunciados", disse Janot.
O procurador também destacou que Ricardo Conrado Mesquita, da Rodrimar, afirmou em depoimento à Polícia Federal que "foi orientado a procurar Rodrigo da Rocha Loures, uma vez que ele realizava a interlocução entre a vice-presidência da República e representantes do setor privado". Segundo Janot, essa seria "mais uma evidência de que Rocha Loures atuava como interlocutor de Michel Temer".
Janot também afirma que não faz sentido a alegação de que as menções a Michel Temer nas conversas entre Joesley e Loures eram "venda de fumaça" – que é quando alguém propagandeia influência inexistente em relação a agente público.