A revelação de Zero Hora de que o presidente Michel Temer viajou a Tietê em 2014 em uma aeronave privada revelou novas conexões do dono do helicóptero, Vanderlei de Natale, com supostos casos de corrupção apurados na Operação Lava-Jato. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a Construbase, empreiteira que tem Natale como sócio-administrador, pagou de R$ 1,9 milhão para um empresa de fachada investigada por escoar propina na obra da Usina de Angra 3, em Angra dos Reis, no Rio.
A Construbase surgiu no inquérito da Polícia Federal a partir da quebra de sigilo CG Consultoria. Segundo o Ministério Público Federal, a empresa serviu de fachada para pagamento de propina ao almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear. De acordo com o Estado de S. Paulo, o MPF descobriu 35 repasses entre 2009 e 2012.
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Othon foi condenado a 43 anos de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa, embaraço à investigação e evasão de divisas. O almirante admitiu que os contratos com a CG Consultoria - cujo dono Carlos Gallo é seu amigo de longa data - eram forjados. Ainda na investigação das licitações para obras em Angra 3, os procuradores do MPF investigam repasses para a empresa Argeplan, do coronel da Polícia Militar e amigo de Temer José Baptista Lima Filho.
Ao obter um contrato de R$ 162 milhões na Eletronuclear, a empresa finlandesa AF foi obrigada a subcontratar duas empresas locais: a Engevix e a AF Brasil - da qual a Argeplan faz parte. Lima era gestor do contrato com a Eletronuclear, pela parte da Argeplan. O contrato foi assinado em 2012 para serviços de eletromecânica. Responsável pela condução das campanhas eleitorais de Temer, Lima teve vasculhada por policiais federais em 18 de maio, em cumprimento a mandado de busca e apreensão expedido pelo Supremo Tribunal Federal. No local, foram encontrados documentos que vinculam o coronel à reforma da casa de uma filha de Temer.
A Construbase também é suspeita de ter participado de cartel para vencer a licitação do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras. o MPF aponta que o Consórcio Novo Cenpes, integrado por Construbase, OAS, Carioca Engenharia, Schahin Engenharia e Construcap CCPS, teria pago R$ 39 milhões em propina para obter o contrato com a Petrobras.
Alvo de mandado de prisão preventiva na Lava-Jato, o diretor da Construbase, Genésio Schiavinato Junior, se entregou à Polícia Federal em Curitiba em 4 de julho do ano passado, sendo libertado quatro dias depois. Ele foi denunciado pelo MPF por corrupção e lavagem de dinheiro. O contrato firmado pelo Consórcio Novo Cenpes com a Petrobras tinha previsão inicial de custo de R$ 850 milhões, mas uma série de aditivos levou o montante final a superar R$ 1 bilhão.
Oficialmente, o helicóptero Bell PR-VDN usado por Temer para a viagem a Tietê em 9 de março de 2014 está em nome da Juquis Agropecuária. Assim como a Construbase, a empresa tem Natale como sócio-administrador. Questionado por Zero Hora sobre o voo a Tietê, o Palácio do Planalto afirmou inicialmente que Temer havia usado um helicóptero da FAB no deslocamento. Depois que a reportagem foi publicada, a assessoria de comunicação da Presidência voltou atrás e admitiu que o presidente voara no helicóptero de Natale, qualificado pelo Planalto como "amigo" de Temer.