Antes mesmo de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentar denúncia contra o presidente Michel Temer, a base governista na Câmara já articula nomes entre os aliados para relatar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o pedido de instauração de eventual processo. Pelo menos três deputados são avaliados, mas o mais cotado até agora é o peemedebista Alceu Moreira (RS), integrante da tropa de choque do governo e resistente a pressões populares.
O deputado foi o relator da reforma da Previdência na CCJ. À época, ele apresentou seu parecer um dia após o governo enviar a proposta e disse que era o The Flash, em referência ao super-herói com poder de se mover ultrarrapidamente. O peemedebista tem sido um dos principais defensores da pauta governista na comissão e vem atuando para barrar o avanço da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) das Eleições Diretas.
Leia mais
Apoio de Alckmin, Doria e Aécio mantém PSDB no governo Temer
Tasso reconhece incoerência por PSDB ficar no governo e recorrer contra o TSE
Temer diz que não interfere e não permite interferência entre poderes
Além de Moreira, o presidente da comissão, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), avalia outros dois nomes para indicar como relator de eventual denúncia, ambos alinhados ao Palácio do Planalto.
O preferido de Pacheco é o deputado Marcos Rogério (DEM-RO), mesmo partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Advogado, Rogério, como relator, deu parecer favorável à cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética da Casa.
Rogério disse que ainda não foi procurado pelos governistas para tratar do assunto.
– Não tenho interesse em relatar, mas, se me for designado, não fugirei da missão.
O deputado, no entanto, disse acreditar não ter o perfil que a base governista quer para enterrar a denúncia.
– Você tem dúvida de que vai ser o Alceu (Moreira)? – questionou.
O terceiro nome é o do deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), que chegou a ser cogitado para presidente ou relator da comissão especial da reforma da Previdência na Câmara. Zveiter tem bom relacionamento com donos de veículos de comunicação e é visto como um parlamentar que poderia minimizar as críticas ao governo.
– Se me convidar, vou ver – disse.
Lista
Vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP) começou a fazer um levantamento com os membros da CCJ para averiguar como devem votar em relação à eventual denúncia contra Temer. Membros que demonstrarem um comportamento desalinhado com o Planalto deverão ser substituídos, mas até o momento os líderes partidários não fizeram mudanças na composição da comissão.
– Comecei a preparar para não ter erro – disse.
Segundo ele, o governo tem a maioria na comissão para barrar a denúncia. Mansur afirmou que, para o governo, a melhor opção seria escolher Moreira como relator.
– Queremos um cara peitudo, bom de microfone e que faça as coisas direito – afirmou.
Apreciação relâmpago
O vice-líder da bancada do PMDB na Câmara, Carlos Marun (MS), disse acreditar que a base governista tem atualmente entre 300 e 350 votos para barrar uma possível denúncia contra o presidente. Ele, que é um dos mais ferrenhos defensores de Temer na Casa, afirmou que, se o procurador-geral da República apresentar a denúncia, a Câmara terá condições de "liquidar o assunto" em dez dias.
Marun afirmou não ter "a mínima dúvida" de que a Casa vai barrar a ação.
– Ela vindo, obviamente que nós vamos tentar liquidar essa questão com a maior brevidade possível.
Ao ser notificado da oferta da denúncia, o presidente da Câmara despachará o pedido à CCJ, que terá dez sessões ordinárias para se manifestar. O parecer do relator será proferido em até cinco sessões. O relatório aprovado poderá entrar na pauta do plenário assim que for enviado à Mesa Diretora. No plenário, a votação é nominal e precisará de dois terços dos votos para ser admitida.
Em nome da oposição, o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) disse que o bloco não aceitará tramitação acelerada.
– Nem queremos que os pedidos sejam engavetados, nem colocados em via expressa em direção ao túmulo – afirmou.