A gravação que mostra o presidente da República Michel Temer dando aval para a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) repercutiu rápido. À medida que as notícias ganhavam as manchetes de sites e interrompiam as programações de canais de TV e emissoras de rádio, o Alessandro Molon (Rede-RJ) dava uma entrevista na Câmara dos Deputados anunciando o pedido de impeachment de Temer.
"Diante da gravidade dos fatos, é imprescindível a instalação de processo de impeachment para apurar o envolvimento direto do Presidente da República para calar uma testemunha", diz o documento protocolado por Molon na Câmara, com base nas informações reveladas pelo jornal O Globo nesta quarta-feira (16).
– Protocolizei o pedido de impeachment de Michel Temer com base nesta denúncia, nesta delação, que trata do pedido de manutenção do pagamento de propina para que se mantenha o silêncio de Eduardo Cunha – afirmou o parlamentar.
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A denúncia a que Molon se referia foi feita nesta quarta-feira pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, que teve acesso ao acordo de delação premiada dos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, ainda não homologado pelo ministro do STF Edson Fachin. Pelo acordo, os executivos ofereceram uma gravação em áudio na qual Temer indica a Joesley o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS). Em outra gravação, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley. Temer também ouviu do empresário que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada na prisão para ficarem calados. Diante da informação, Temer teria dito:
– Tem que manter isso, viu?
As bancadas de PT, PDT e PSOL também devem apoiar a abertura de um processo para cassar Temer – porém, avaliam o momento, já que seria importante confirmar a existência da gravação e ouvir o áudio. A oposição deve centrar o discurso inicial na renúncia do presidente.
– Fica claro que esse governo não tem legitimidade para continuar governando. Chegou ao ponto final. Se o ponto final do governo não for dado pela sua própria renúncia, será feito por esta Câmara e este Senado através de um impeachment – afirmou o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP).
Parlamentares de oposição se reuniram logo após a publicação da reportagem. No Senado, as bancadas rivais a Temer também se encontraram para discutir os próximos passos do novo capítulo da crise política no país.
– Só uma nova eleição no prazo de 90 dias vai normalizar o país – afirma o deputado Henrique Fontana (PT-RS).