Em um discurso emocionado após cinco horas de depoimento ao juiz Sergio Moro, o ex-presidente Lula disse às 7 mil pessoas que lotavam a praça Santos Andrade, no centro de Curitiba, que está preparado para voltar à Presidência da República. Ora em tom de desabafo, ora em tom de comício, Lula reafirmou sua inocência no processo do triplex no Guarujá e disse que é vítima de um massacre da Lava-Jato e da imprensa.
– Hoje eu pensei que os meus acusadores iam mostrar uma escritura, um pagamento, alguma prova. Mas não tinham nada. Eu esperava que depois de dois anos de massacre, eu chegasse aqui e eles tivessem um documento que dissesse: "Lula comprou o apartamento". Eles me perguntaram se eu conhecia o Vaccari, o Okamotto, o Leo Pinheiro. É obvio que eu conheço – disse Lula, em referência respectivamente ao ex-tesoureiro do PT, ao presidente do Instituto Lula e ao ex-presidente da OAS, réus junto com ele no mesmo processo.
Leia mais
Dilma: Lula é líder importante que vai derrotar retrocesso de governo golpista
A Moro, Lula se diz perseguido por imprensa: "Procura-se vivo ou morto"
Comitiva de Lula deixa sede da Justiça Federal em Curitiba
Lula chegou ao local logo após deixar o prédio da Justiça Federal numa comitiva de quatro carros, escoltada por batedores da Polícia Militar. Subiu logo ao palanque, onde falou por 12 minutos. Logo no início do pronunciamento, foi interrompido pelo uma salva de foguetes e gritos de "Lula guerreiro do povo brasileiro".
O ex-presidente começou agradecendo às milhares de pessoas que o esperaram por quase todo o dia na praça. Ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff e de quase toda a bancada de deputados e senadores do PT, disse que estava emocionado.
– Do fundo do meu coração, eu não tenho tamanho para tamanha solidariedade – afirmou, ao comentar que já havia participado de manifestações com mais de 1 milhão de pessoas, mas que nenhuma havia sido tão gratificante como esta.
Ao público que esperava que o depoimento fosse transmitido ao vivo, ele disse que havia feito o pedido ao juiz Sergio Moro porque havia aprendo uma lição com a própria mãe, Dona Lindu: "a gente conhece quando uma pessoa fala a verdade não é pela boca, é pelos olhos". O petista disse que somente o apoio dos militantes o fazia suportar tanta perseguição, reclamou da enxurrada de notícias negativas a seu respeito e recorreu ao famoso bordão para exclamar que "nunca antes na história desse país alguém foi tão perseguido". Citando a mulher, Marisa Letícia, falecida no início do ano, os cinco filhos e oito netos, disse que reclamou aos integrantes da força-tarefa que uma das crianças, de quatro anos de idade, estavam sendo submetida a bullyng "por conta das mentiras que vocês contam".
– Eu não seria digno de vocês se tivesse alguma culpa e estivesse aqui falando com vocês agora. Vou prestar quantos depoimentos forem necessários. Se tiver um ser humano que está em busca da verdade, sou eu – discursou à multidão que o ovacionava.
No final do pronunciamento, Lula chorou.
– Se um dia eu tiver que mentir para vocês, prefiro que um ônibus me atropele em qualquer rua desse país. Eu jamais poderia mentir para vocês – falou, às lágrimas.
Em seguida, disse que está pronto para disputar outra eleição, para mostrar que "se a elite não tem competência para consertar o país, um metalúrgico com o quarto ano primário tem". Ao final, pediu respeito aos integrantes da Lava-Jato:
– Eu não quero afrontar ninguém, eu respeito a Justiça. A única coisa que eu peço é o respeito deles em troca – concluiu, saudado aos gritos de "Lula, eu te amo" e "Lula ladrão, roubou meu coração".