Na sessão de julgamento de habeas corpus de José Dirceu, o advogado do ex-ministro petista, Roberto Podval, clamou pela libertação após quase 2 anos de prisão preventiva e criticou duramente a força-tarefa da Lava-Jato no Ministério Público Federal no Paraná por ter oferecido nova denúncia no dia em que o STF analisaria o pedido de liberdade.
– Eu acordo hoje com a informação dos representantes da imprensa que estavam recebendo releases de que uma nova denúncia teria sido oferecida na data de hoje pelo MPF-PR. Dois anos após a prisão preventiva, numa tentativa de intimidar este próprio advogado e a Corte, eles oferecem terceira denúncia e dizem que estão oferecendo para clarear o conhecimento sobre os fatos. O poder do MPF é tão grande e tão sério que não se pode trabalhar com essa irresponsabilidade. Não é correto, não é legal, não é ético – disse o advogado Roberto Podval.
Leia mais
Nova denúncia contra Dirceu "é o rabo abanando o cachorro", diz Mendes
Lava-Jato denuncia Dirceu por recebimento de propina durante julgamento do mensalão
"Existem razões de sobra para Dirceu ficar na prisão", diz Dallagnol
Em relação ao pedido de liberdade, o advogado concentrou-se em argumentar que não há motivos para que Dirceu continue preso. Segundo Podval, o cliente "teve buscas e apreensões, toda a sua vida foi devassada, teve analisados computadores, telefones, abriu-se mão dos sigilos". Ele afirmou que "já há sentenças de primeiro grau nos dois processos que existiam em relação a José Dirceu. Qualquer hipótese de atrapalhar a investigação não existe".
Podval afirma que não é correta a avaliação de que José Dirceu voltou a cometer crimes mesmo depois de condenado no mensalão.
– Não houve nenhum ato ilícito posterior ao trânsito em julgado da Ação Penal 470 (Mensalão) no Supremo – disse.
Ele afirmou que "não houve falta grave após o trânsito em julgado".
– Portanto José Dirceu era réu primário e não cometeu fato ilícito após a AP 470. O Trânsito em julgado na AP 470 foi suficiente para cessar ato criminoso que porventura pudesse ter acontecido – disse.
Outro elemento usado pela defesa é a saída do PT da presidência da República - o que afastaria Dirceu do poder e, portanto, diminuiria as chances de ele poder voltar a cometer delitos.
– Aqui eu cito inclusive: a realidade do nosso país era completamente outra. Os poderes e a influência que poderia haver enquanto Dirceu estava no poder, enquanto a presidente era do partido... aquela realidade é diversa da que vivemos hoje. Hoje José Dirceu é um homem de 70 anos, fora de qualquer tipo de influência – disse a defesa.
– Nada justifica a manutenção de uma prisão de um homem de 72 anos de idade, preso 2 anos preventivamente sem que nenhum outro fato, absolutamente nada, tenha surgido – concluiu o advogado.
*Estadão Conteúdo