O clima que tomou conta de Brasília na noite desta quarta-feira indica a relevância política da gravação que, supostamente, mostra o presidente Michel Temer dando aval para a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Com a sessão de votação encerrada na Câmara dos Deputados, parlamentares seguiram no plenário concedendo entrevistas e fazendo postagens em redes sociais.
– A gravidade do tema foi dada pela atitude do presidente da Câmara de acabar com a sessão de repente para impedir que pudesse seguir o debate político – afirmou a deputada Maria do Rosário (PT-RS), enquanto correligionários gritavam ao fundo que estava "caindo a República". – Vamos fazer uma reunião com todos os partidos de oposição e renovar o ideal de que ele (Temer) renuncie – acrescentou.
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Conforme a parlamentar, a renúncia serviria para abreviar o processo de afastamento e a convocação de eleições gerais, a partir da aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ). Colega de partido de Rosário, Afonso Florence (PT-BA) reafirmou o que correligionários gritavam no Congresso:
– Se confirmada a veracidade dos áudios, acabou o governo Temer. Isso incinera o governo Temer, a reforma da Previdência.
A oposição no Senado se reuniu logo após a notícia do suposto áudio do presidente Michel Temer autorizando a compra do silêncio de Cunha. Os senadores montaram um plano de ação que consiste em um pedido de impeachment e pressão pela renúncia do presidente e pela paralisação da análise das reformas do governo no Congresso Nacional.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi o responsável por dar a notícia, em plenário, do áudio entre donos da JBS e Temer.
– O governo Temer acabou – afirmou o senador, ressaltando que o fato é passível de afastamento do presidente, objetivo do pedido de impeachment protocolado pelo deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) nesta quarta-feira.
– Ele tem que renunciar ao mandato de imediato e o Brasil precisa de uma convocação de eleições diretas. É a única maneira que temos de pacificar o País e resolver o que estamos vivendo – afirmou Gleisi Hoffmann (PT-PR), líder do PT no Senado.
A senadora disse que a situação é gravíssima e que há provas concretas do envolvimento do presidente. A Constituição Federal não permite eleição direta nesta situação, mas indireta.
O colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, divulgou informações sobre acordo de delação premiada dos donos da JBS, os irmãos Joesley e Wesley Batista, ainda não homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. Pelo acordo, os executivos ofereceram uma gravação em áudio na qual Temer indica a Joesley o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS). Em outra gravação, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley. Temer também ouviu do empresário que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada na prisão para ficarem calados. Diante da informação, Temer teria dito:
– Tem que manter isso, viu?
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia define a suposta obstrução da Justiça praticada por Temer como fatos "estarrecedores, repugnantes e gravíssimos":
– A sociedade precisa de respostas e esclarecimentos imediatos. As cidadãs e cidadãos brasileiros não suportam mais conviver com dúvidas a respeito de seus representantes. Por isso, as gravações citadas precisam ser tornadas públicas, na íntegra, o mais rapidamente possível. E a apuração desses fatos deve ser feita com celeridade, dando aos acusados o direito à ampla defesa e, à sociedade, a segurança de que a Justiça vale para todos, independentemente do cargo ocupado.
"A vida continua e, como sempre, tenho agenda amanhã às oito horas", disse o presidente Michel Temer, aos parlamentares e ministros que se reuniam com ele, no Palácio do Planalto, segundo contou o deputado Alfredo Kaefer (PSL-PR), que participou do encontro e lhe prestou solidariedade. Temer, que estava "tranquilo", de acordo com o deputado, agradeceu o apoio de todos e emendou: "vida que segue".
*ZH e Com agências de notícias