Desde a última quinta-feira (18), quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin retirou o sigilo e divulgou o áudio do encontro entre o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, e o presidente Michel Temer, ocorre uma guerra de interpretações sobre a gravação ter sido ou não manipulada.
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O Supremo Tribunal Federal adiou, nesta segunda-feira (22), o julgamento do pedido de suspensão do inquérito contra Temer. A presidente da Corte, ministra Cármen Lucia, determinou que a sessão só será realizada após conclusão da perícia do gravador, que está sendo realizada pela Polícia Federal (PF). Contudo, não há prazo para a conclusão dos trabalhos.
Por enquanto, há uma única certeza: a gravação, que tem cerca de 40 minutos, foi capaz de abalar as estruturas do governo Temer.
A cronologia:
Quinta-feira (18)
- O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin retirou o sigilo e divulgou o áudio do encontro entre o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, e o presidente Michel Temer. Em conversa com aliados, o presidente teria minimizado a gravidade do conteúdo, questionando: "é só isso?".
Sexta-feira (19)
- No início da tarde, Temer faz pronunciamento em que chama a gravação de "clandestina".
- No final da noite de sexta-feira, o jornal Folha de S. Paulo contratou perícia que concluiu que a gravação sofreu mais de 50 edições. O laudo foi feito por Ricardo Caires dos Santos, perito judicial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Na reportagem, ele sustenta que o áudio tem "indícios claros de manipulação" e vícios, processualmente falando" e que, por tais razões, seria invalidado como prova jurídica.
- Reportagem de O Estado de S.Paulo também questiona a integridade do material. Consultado pelo jornal, o perito extrajudicial e judicial Marcelo Carneiro de Souza afirmou ter identificado, após exame preliminar, "fragmentações" em 14 momentos na gravação, isto é, pequenos cortes de edição no áudio da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, dono da JBS.
Sábado (20)
- Em novo pronunciamento, o presidente Michel Temer, citando a matéria da Folha, afirmou que a gravação foi "manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos". Durante o pronunciamento, Temer disse ainda que o áudio foi incluído no inquérito "sem a devida e adequada averiguação". O presidente anunciou que entraria com ação no Supremo Tribunal Federal pedindo suspensão do inquérito até que seja verificada a autenticidade da gravação.
- A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais apontou "presença de eventos acústicos" no áudio da conversa e recomendou "envio imediato" do arquivo e do gravador ao Instituto Nacional de Criminalística, órgão central de perícia criminal da Polícia Federal. “Ao se ouvir o áudio divulgado pela imprensa, percebe-se a presença de eventos acústicos que precisam passar por análise técnica, especializada e aprofundada, sem a qual não é possível emitir qualquer conclusão acerca da autenticidade da gravação”, disse a entidade, em nota pública
- Com base em seus registros, a rádio CBN apontou ser possível determinar que o áudio não sofreu edição. Isso porque, ao chegar ao encontro, o empresário Joesley Batista tinha o rádio do carro sintonizado na CBN e ouvia uma reportagem. Ao deixar o Palácio do Jaburu, o aparelho continuava ligado e transmitia o quadro Nos Acréscimos que, naquele dia, foi ao ar às 23h08min. O tempo entre a reportagem e o quadro totaliza 38 minutos, assim como o tempo da conversa entre Joesley e Temer.
- Relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin determinou que a Polícia Federal (PF) faça uma perícia no áudio da conversa entre Temer e o dono da JBS. A decisão atendeu, em parte, uma petição da defesa do peemedebista.
Domingo (21)
– Reportagem de O Globo afirma que o autor da perícia contratada pela Folha usou equipamento amador. Além disso, a matéria diz que o perito judicial Ricardo Caires dos Santos – bacharel em Direito e corretor de imóveis – cometeu uma série de erros na degravação da conversa, trocando nomes de pessoas citadas (a presidente do BNDES Maria Sílvia Bastos foi confundida com Marina Silva) e até cometendo alguns deslizes gramaticais.
- Procurado pelo O Globo, Ricardo Caires dos Santos negou que o áudio da conversa tenha 50 pontos de edição, como apontado pela Folha. Seriam, na verdade, 14 pontos de edição, entre 15 e 20 pontos de corte e diversos trechos de ruído. O perito foi o mesmo contratado pela família do menino Bernardo Boldrini para tentar provar que a carta de suicídio da mãe dele, a enfermeira Odilaine Uglione, era falsa.
- A defesa de Temer e a Procuradoria-Geral da República protocolaram, na noite deste domingo (21), pedido para que a Polícia Federal esclareça pontos sobre o áudio da conversa entre o presidente e o dono do frigorífico JBS, Joesley Batista. No total, há 31 pedidos de esclarecimentos.
Segunda-feira (22)
- O perito Ricardo Caires dos Santos negou ter dado nova versão sobre edição de áudios. Questionado pela Folha, ele disse ter sido mal compreendido pela repórter de O Globo e que procurou acrescentar detalhes à análise. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, Santos disse que o programa utilizado por ele é válido.
- O STF adiou o julgamento do pedido de suspensão do inquérito contra Temer. A presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, determinou que a sessão só será realizada após conclusão da perícia realizada pela Polícia Federal na gravação da conversa entre Temer e Joesley.
- A defesa do presidente Michel Temer mudou de estratégia e desistiu do pedido de suspensão do inquérito aberto para investigar Temer. Segundo o advogado Gustavo Guedes, Temer quer ver o caso elucidado e concluído o mais rápido possível. O advogado informou que a defesa de Temer contratou uma perícia particular que constatou 70 “pontos de obscuridade” no áudio. Essa perícia foi incluída no inquérito.